Na minha experiência, como alguém sempre em contato com pessoas que estão começando a se interessar por arte contemporânea e a se aprofundar nesse universo, vejo que ela pode ser intimidadora. Os artistas e o meio da arte como um todo parecem ter sido mais capazes em avançar em seus conceitos, critérios e práticas do que na comunicação com o público não especializado. Precisamos acompanhar os movimentos ousados dos artistas para também criar novas formas de diálogo com o público.
Nos cursos e escolas de arte, percebo que a procura por História da Arte é alta, enquanto a procura por uma aproximação com a arte contemporânea ainda titubeia. A maioria das pessoas está mais familiarizada com as obras de arte clássicas e históricas, como as pinturas de Leonardo da Vinci ou de Michelangelo. Em comparação, a arte contemporânea pode parecer mais estranha ou até mesmo inacessível.
Sempre é mais fácil conhecermos o que já está consolidado, consagrado, historicizado. No entanto, como nosso tempo é um dos mais ricos em mudanças, lançar-se nessa aventura envolve um risco irresistível para o prazer do debate, da apreciação, da coleção e da associação entre a arte feita pelos artistas que viveram ou vivem próximos de nós e o que acontece hoje no mundo.
Nas últimas décadas, a arte contemporânea passou a trabalhar com mais intensidade um questionamento das categorias clássicas de beleza e de representação da realidade. Poucos são os artistas que hoje fazem obras para agradar ao público, naquele sentido de fazê-lo sentir-se bem, relaxado, confortável. Atualmente, prioriza-se o conceito, a atitude, o pensamento que motivou a obra. E, assim como ninguém nasce sabendo escrever, mas precisa ser alfabetizado, é preciso conversar para compartilhar quais são esses códigos e critérios da arte contemporânea e qual a relação deles com a nossa vida, no dia a dia.
Minha experiência como curadora no Art Wall do Shopping Leblon só reforçou, com a vivência prática, essas impressões que eu já vinha desenvolvendo. Hoje, vejo como é enriquecedor para todos o impacto que pode provocar, em alguém desprevenido, encontrar, de repente, uma obra de arte em uma parede pela qual a pessoa passa enquanto vai às compras ou ao trabalho. Como todos sabemos, há uma parte do impacto que é provocado não só pela obra em si, mas também pelo seu contexto, onde ela está, onde ela é encontrada. No Art Wall, a arte pega de surpresa o público que não costuma frequentar galerias e instituições de arte.
Isso pode ser feito também por meio de cursos orientados para quem está chegando, viagens e visitas guiadas. Como curadores, consultores e professores, precisamos compartilhar nossa paixão pela arte com todos que estejam dispostos a recebê-la, assim como deixar uma pulga atrás da orelha de quem, a princípio, não está.
Precisamos desmistificar a arte contemporânea, abordando o assunto com leveza, mas em toda a sua riqueza, em toda a sua relação com o mundo e a vida. Só assim, impactaremos o maior número de pessoas, respeitando o que elas pensam e agregando novas possibilidades. Quando o assunto é “art advisory”, por exemplo, é preciso dialogar com o cliente e auxiliá-lo a identificar os bons artistas. Isto, sim, é para especialistas porque, por vezes, o mercado apresenta mal-entendidos. É nesse momento que as consultorias são fundamentais, e os clientes devem contar com a solidez de decisões para a construção de coleções de arte significativas e coerentes, que atendam às suas necessidades particulares e aos seus orçamentos específicos.
Apesar de buscar se aproximar da vida, a abordagem contemporânea da arte muitas vezes é desafiadora, o que pode torná-la desconcertante ou, até mesmo, perturbadora para algumas pessoas. Penso que a maneira de estreitar o contato é incluir a arte no cotidiano, criar pontes e formas de conversar com quem tem toda uma bagagem e todo um conhecimento já presentes na sua vida, no seu trabalho, mas que se mantém curioso e deseja expandir o seu olhar.
Christiane Laclau é curadora, gestora e “art advisor”. Tem pós-graduação em Crítica e Curadoria de Arte, com pesquisa sobre Arte Contemporânea e Mercado. Fundou a Artmotiv, plataforma especializada em arte contemporânea.