Tenho uma relação um tanto ambígua com o conceito de “seguidor” em rede social.
Sigo alguém para me informar sobre o que aquela pessoa pensa, não para que minhas crenças sejam validadas.
Sigo quem tenha algo relevante a dizer — eu concordar ou não é totalmente secundário.
Sigo para me divertir — com a inteligência, o humor, a burrice, a turrice, a perspicácia, a falta de noção.
Por isso sigo Monica Bérgamo e Alexandre Garcia.
Rodrigo Constantino e Leonardo Boff.
Antônio Tabet, Marcelo Adnet, Marcelo Madureira, Carlos Bolsonaro, Hélio de la Peña, Beto Silva, Maurício Meirelles.
Criss Paiva e Nina Lemos.
Juvi e a dra. Rosângela.
Eduardo Jorge, Eduardo Leite e Eduardo Bolsonaro.
Márcia Tiburi e Danilo Gentilli.
Damares Alves e Felipe Neto. Reinaldo Azevedo e General Heleno.
Isso no Twitter. No FB a lista é bem maior. E tão eclética quanto.
De uns tempos pra cá, dei para avaliar o impacto das minhas postagens não pela quantidade de comentários, curtidas e compartilhamentos, mas pela oscilação no número de amigos / seguidores.
Um texto ironizando o atual presidente provocou a debandada de algumas dúzias de “amigos” e umas centenas de “seguidores” (a evasão pode ter sido maior, parcialmente compensada pela chegada de quem entendeu a piada). Durante cada debate da campanha presidencial, lá se iam uma penca de “amigos” e algumas dezenas de “seguidores”.
Ou seja, pessoas que me seguiam para ler o que elas já pensam, já sabem, com o que já concordam. Só que escrito (normalmente) segundo a norma culta.
Postagens de teor sentimental fazem aumentar o número de quem acompanha ou solicita amizade — o que torna tentador contar todo dia um caso da Duda. O saldo é inevitavelmente positivo. Ou negativo, já que os comentários são basicamente gifs animados e emoticons.
As de viés político podem até atrair uns e outros, mas o saldo é inevitavelmente negativo. Ou positivo, dependendo se consideramos a quantidade ou a qualidade do que foi perdido / ganho.
Tenho vontade, às vezes, de colocar, na foto de capa, algo como “Não me siga — eu também estou perdido” ou uns versos do José Régio:
“A minha glória é esta:
(…)
Não acompanhar ninguém.”
Por isso não devíamos usar a palavra “seguidor”, que dá a impressão de alguém ir à frente, puxando o cordão.
“Acompanhante” seria melhor, não criasse certa ambiguidade erótica. “Parceiro” ou “companheiro” dão um ar meio homoafetivo. “Camarada”? Hmmm, sei não.
Poderia haver os “Amigos” e os “Tamo junto”. Para o convergente e o contraditório, para matar as saudades do já visto e para conhecer o novo, para o “uau!” e “tsk tsk tsk”. Na alegria e na tristeza, na vitória e na derrota (e também no empate). Ninguém seguindo ninguém, mas lado a lado.
Todos rezando pelo credo do José Régio:
“Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…”