Creio que nós podemos afirmar, sem qualquer sombra de dúvidas, que o governo Bolsonaro foi caracterizado por uma prática permanente de produção do terror na sociedade brasileira. Esse terror tem um efeito traumático sob as subjetividades, a medida em que se realizou de forma repetida ao longo desses 4 anos.
Nos ameaçou constantemente com a ruptura da ordem democrática, atacando o judiciário e promovendo a prática da necropolítica, voltada para a promoção da morte. Com efeito, a sua política de liberação das armas sem controle, permitiu que delinquentes e milicianos acessassem esse material bélico. Não podemos desconsiderar a destruição da Amazônia e o genocídio realizado sob quase 700 mil mortos na pandemia.
Ao lado disso, ele colonizou as classes médias e as populações evangélicas com suas políticas de costume, fazendo o País retroceder décadas. Tudo foi feito com o auxílio das fake news que atacou as conexões mentais de muita gente permanentemente.
Além de promover a dupla mensagem — processo que cria uma divisão psíquica nas pessoas, onde ao mesmo tempo uma coisa é dita e não dita.
Por isso que todos nós chegamos agora, ao fim do governo Bolsonaro, e nessas eleições, com uma sensação de enorme cansaço mental, que é o efeito da devastação psíquica promovida pelos instrumentos que eu me referi acima.
Enfim, para sair deste trauma e desta devastação psíquica, é necessário que o país restabeleça a ordem democrática plena e que possamos ser cuidados para garantir os exercícios das liberdades como condição fundamental para curar essa patologia social e esta condição de barbárie promovida pelo bolsonarismo.
Joel Birman é médico, psicanalista, professor da UFRJ, membro do Espaço Brasileiro de Psicanálise. Tem vários livros publicados no Brasil e no exterior. Foi vencedor de três prêmios Jabuti.
Foto: Rodrigo Cancela