Fotos de antes e depois milagrosas: quantas vezes essas sugestões não apareceram pra você no Instagram ou em anúncios de sites? A verdade é que muitas pessoas caem em golpes, como chás, dietas restritivas que prometem grandes mudanças de peso, mas acabam caindo no efeito rebote.
Especialistas recomendam não cortar grupos inteiros de alimentos nem contar calorias, pois, a longo prazo, tais restrições e hábitos excessivos podem prejudicar a saúde e favorecer a abertura dos quadros de transtornos alimentares, o que não é uma novidade. Sete a cada dez brasileiros já tentaram perder peso sem nenhum tipo de acompanhamento médico.
O professor Albert J. Stunkard, primeiro psiquiatra a descrever quais as características clínicas de um episódio de compulsão alimentar, alertou, em 1959, que 95% das pessoas que iniciam uma dieta ganham peso novamente cinco anos depois do tratamento. Portanto, para além do emagreça a qualquer custo, o ponto-chave, tanto comportamental, quanto metabólico, é a manutenção em longo prazo.
Dados da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) apontam que sete a cada dez brasileiros já tentaram perder peso sem nenhum tipo de acompanhamento médico, utilizando métodos perigosos ou ineficientes.
As famosas dietas da moda funcionam como uma isca para essas pessoas, atraindo-as com promessas de praticidade, baixo investimento, resultados rápidos e duradouros, o que se mostra completamente irreal com o tempo.
Vale destacar também o papel das redes sociais nesse processo. Elas viralizam “antes e depois”, tendenciosas, nas quais receitas detox e pacotes de emagrecimentos são compartilhados sem nenhum critério, e acabam acumulando diversas tentativas frustradas, alimentando uma saúde mental abalada pelos fracassos obtidos.
Engana-se quem pensa que a mente não tem um papel importante no emagrecimento. Sintomas depressivos, estresse, ansiedade e outros distúrbios interferem na alimentação do indivíduo, despertando a necessidade de comer, principalmente, pães, bolos, massas, doces e refrigerantes, desencadeando uma sensação de acolhimento e felicidade momentânea.
Além disso, os aplicativos de emagrecimento assumiram uma nova função na vida das pessoas e se tornaram tendência entre os usuários de qualquer classe social; afinal, são mais acessíveis do que a mensalidade de uma academia ou equipamentos para a prática de atividades.
Eles passaram a utilizá-los para monitorar a saúde. A grande maioria opera no modo de contagem de calorias, o que acaba fazendo os usuários reféns dos números e de tabelas nutricionais que, por muitas vezes, podem iludir.
Se, por muito tempo, uma melhor relação com o corpo era pautada pelas capas de revistas, oferecendo dietas milagrosas, cada vez mais se observa um posicionamento mais crítico dos diferentes meios de comunicação, na tentativa de ajudar as pessoas nesse processo de educação, na relação com a comida e o corpo. Nesse sentido, começar uma entrega de informação que proporcione mais reflexão do que imposições e delimitações que não fazem sentido para as pessoas pode ser um caminho mais produtivo para entrega de conteúdo científico à população.
Já foi o tempo em que emagrecer seguindo dietas focadas na quantidade de calorias dos alimentos era a opção mais comum. O corpo humano não funciona de forma tão simples — nem sempre comer menos resulta em uma queima maior de gorduras. É preciso verificar o comportamento alimentar dos pacientes de forma ampla, para que eles não adoeçam ainda mais. O primeiro passo para uma sociedade menos vítima de golpes dessa forma é sinalizar que qualquer cuidado de saúde emocional passa antes por uma autorreflexão.
Maria Francisca Mauro é psiquiatra especializada na área de Transtornos Alimentares e Obesidade. Pesquisadora colaboradora no PROCIBA/HUCFF/UFRJ (Programa de Obesidade e Cirurgia Bariátrica do Hospital Universitário Fraga Filho) e membro do GOTA/IPUB/UFRJ (Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares). Atualmente, também é aluna de doutorado do Propsam/IPUB/UFRJ.