“Dacio, que alegria! Agora somos parentes de verdade!”
A afirmação, surpreendente, foi de Danuza Leão, semanas antes do nascimento da bisneta Irene, filha de Laura e João Wainer. João estava no Rio para o lançamento de seu filme “A Jaula”, e levou Laura, grávida de sete meses, para ir conhecer a avó. Conversa vai, conversa vem, Laura disse que minha filha Roberta seria a madrinha. Danuza ficou empolgada: a neta de Octávio Malta seria madrinha da filha do neto de Samuel Wainer.
Estava estabelecido os “laços de família”. Ela sabia que esses laços existiam desde os anos 40, quando Samuel e meu pai se conheceram. Há algum tempo, minha filha precisou de um depoimento da filha de Danuza para uma reportagem. Sabendo que Pinky era arredia a entrevistas, pediu minha intermediação. E ela concordou: “Sabe que não falo com ninguém, mas no caso da sua filha… nós somos primas, né?”
No auge da pandemia, liguei pra Danuza para pegar o telefone do filho Bruno. Menos de 12 horas depois, ela me liga: “O Bruno te esperou o dia todo e você não ligou”. A ansiedade era uma de suas características.
A última vez que estivemos juntos foi depois da morte de Artur Xexéo. Danuza convidou-me para jantar e mandou fazer uma costelinha de porco, com farofa e salada: “Sei que você gosta disso. O primeiro restaurante que fomos, e Xexéo também estava, foi um de comida nordestina na Ilha do Governador”.
Uma das mulheres mais badaladas do País, há anos Danuza era extremamente caseira. Nessa noite, ela contou dezenas de casos de Samuel que não estão nem no livro de memórias “Minha Razão de Viver”, nem na excelente biografia assinada por Karla Monteiro.
Eram histórias dos bastidores de “Última Hora”, as trapaças de seus diretores, e até mesmo dos irmãos e primos de Samuel.
Acho que ela gostou da noite, pois a conversa era com alguém que conhecia todos os personagens e eu, obviamente, adorei.
E lembramos também de histórias do “Jornal do Brasil”. Certa noite, estava no Galeão aguardando um voo para Nova York, quando recebi um telefonema da redação informando que o Zózimo havia aceito um convite de “O Globo”. Antes de embarcar, eu já tinha o nome de Danuza na cabeça. Em Nova York, no dia seguinte, fui almoçar com Elio Gaspari e Paulo Francis. Para Elio, que chegou primeiro no restaurante, falei sobre minha ideia. Ele ficou entusiasmado, mas aconselhou-me a não comentar com Francis, antes de falar com o Dr. Brito, presidente do JB. Por isso o convite demorou. Quatro dias depois telefonei para Danuza, que estava em Curitiba para uma palestra. Ela levou um susto, mas aceitou no dia seguinte. E claro: foi um sucesso.
Na Copa do Mundo dos EUA ela foi uma das escaladas para cobrir o evento. Passei por Los Angeles, e ficamos praticamente um dia inteiro juntos. Na época, não existia selfie. E Danuza passou boa tarde do dia distribuindo autógrafos pelas ruas de LA.
No dia seguinte que deixei a direção do JB, Danuza publicou uma nota em sua coluna: “Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu…”
Sua nota de 1995 está valendo no dia de hoje.
Dacio Malta é jornalista e diretor de cinema