Na semana passada, meu marido estava me falando sobre a maior empresa do Brasil em um determinado setor. Eu lhe disse que, recentemente, essa mesma empresa tinha me pedido que realizasse uma palestra gratuita para suas lideranças; o tema seria prevenção ao assédio. Receber esse tipo de pedido de empresas gigantes e multinacionais bilionárias não é raro…
Meu marido exclamou: “O quê? A maior empresa do País nesse ramo pede seu trabalho de graça???”
O diretor que me procurou para solicitar-me esse trabalho gratuito, este ano, mandou-me uma mensagem dizendo que adorariam ter-me com eles, que não teriam verba, mas que toda a liderança da empresa estaria presente. Subentende-se: você não será paga, mas olha que oportunidade de você ser vista e conhecida por toda a liderança!
Naquele momento, veio-me um mix de sentimentos. Por um lado, satisfação e alegria por ter sido lembrada e indicada para esse tema; por outro, uma sensação de ser abusada e desvalorizada como profissional, depois de investir tanto na minha formação. Até porque eu já tinha oferecido uma palestra para eles poucos anos atrás, de graça, em troca de eles conhecerem meu trabalho e, caso gostassem, poderiam contratar-me para um aprofundamento.
Em vez de dizer “não”, procurei aplicar o meu método, o Método Conecta. Resolvi fazer perguntas para entender melhor a falta de verba e avaliar se teria alguma outra condição possível, que pudesse compensar a falta de remuneração. Perguntei também se a liderança tinha mudado, uma vez que eu já apresentara meu trabalho algum tempo atrás e eu tinha sido superbem avaliada.
Em função das minhas perguntas, aquele diretor entendeu rapidamente que não estava fazendo sentido para mim dar mais uma palestra gratuita nessa mesma empresa, e me agradeceu, dizendo que deixaríamos para outra oportunidade.
Por que estou contando essa história? Porque praticar os conceitos da Comunicação Não Violenta significa, antes de qualquer coisa, conhecer seus valores e necessidades para poder tomar decisões e atitudes conscientes que os respeitem.
Não se respeitar é um ato violento. Permitir que as pessoas não nos respeitem, desvalorizem-nos, ou abusem de nós, também é violento. E é bom lembrar que o outro só faz o que permitimos que nos faça.
É claro que uma parte de mim ficou com certo receio de estar perdendo uma superoportunidade. Por outro lado, fiz um pacto comigo mesma: não me abusar nem me deixar abusar por ninguém, nunca mais. A necessidade de respeito, valorização e justiça fala mais alto.
Eu digo “não” ao abuso; isso é uma decisão interna e de cada um. Acredito que sempre haverá pessoas que tentarão obter vantagens ou abusar da nossa boa vontade, gentileza, empatia, generosidade etc.
Minha pergunta é a seguinte: o que você quer para você? Se alguém tentar explorá-la/o, você vai deixar, ou impor limites?
Se cada um de nós decidir dizer “não” ao abuso, aos poucos, os abusos cessarão. Não é?