Essa semana, assisti à nova minissérie que estreou na Netflix, no dia 11 de fevereiro, chamada “Inventando Anna”. Verdadeiro sucesso em nível mundial, essa série, inspirada na vida real de Anna Sorokin (conhecida como Anna Delvey), retrata a história da mulher que criou uma identidade fictícia e convenceu uma boa parte da elite de Nova York de que era uma grande empreendedora e herdeira alemã de uma fortuna de 60 milhões de euros. Contudo, por trás dessa mentira, escondia-se uma golpista mais do que audaciosa.
Assisti também ao “O golpista do Tinder”. Nesse filme-documentário, o israelense Simon Leviev — que se chama Shimon Hayut na vida real — é acusado de se passar pelo herdeiro de um magnata de diamantes, Lev Leviev, com o objetivo de aplicar golpes em mulheres que encontra no Tinder.
O que essas duas produções têm em comum? Protagonistas que aplicam golpes e que demonstram comportamentos dignos de um alto grau de psicopatia.
As pessoas psicopatas — também chamadas de “sociopatas” — costumam agir seguindo um certo padrão que podemos resumir em quatro fases:
1. sedução;
2. controle;
3. ascensão;
4. descarte.
1. Na fase de sedução, costumam se aproximar de indivíduos relativamente acessíveis e manipuláveis para chegar aonde querem. Para pessoas psicopatas, o fim justifica os meios. Não hesitam em bajular, exagerar nos presentes e fazer a pessoa se sentir única para conquistar. Podem inventar uma história triste para gerar compaixão e fazer seu alvo baixar a guarda, por exemplo, “meus pais nunca me amaram, e agora estou sozinha, tendo que lutar para sobreviver” ou “minha ex foi uma pessoa horrível e totalmente louca que me enganou e tomou todo o meu dinheiro”…).
Atenção: podem ser apresentadas por pessoas de confiança, pois costumam usar e manipular as pessoas para se aproximarem de novas relações cada vez mais poderosas e menos acessíveis.
2. Uma vez que conseguiram obter confiança, usam várias estratégias de manipulação mental para tomar o controle dos seus alvos: “gaslighting”, mentiras, tratamento de silêncio, explosões de raiva, chantagem emocional, entre outras. E apesar de serem capazes de fingir sentimentos e de se divertirem com suas vítimas, não existe um afeto real nos seus relacionamentos, apenas interesses. No fundo, por trás de sua máscara de sedução e carinho, costumam considerar as pessoas como simples objetos para alcançar seus objetivos.
3. A partir dos relacionamentos que conquistaram, enganaram e abusaram, conseguem crescer na sociedade, nas empresas e nas famílias — é a fase de ascensão, que pode ser progressiva até conseguirem uma projeção maior. Costumam gerar discórdia por onde passam. Manipulam, mentem, difamam, para jogar uns contra os outros, desestabilizando e enfraquecendo seus alvos. É a famosa estratégia maquiavélica “dividir para reinar”.
4. Por fim, podem descartar os indivíduos que usaram, abusaram e esvaziaram sem nenhuma culpa, nenhum constrangimento, nenhum remorso. Só mantêm relacionamentos que podem ainda enganar e com quem vai poder obter o que eles querem. Pessoas psicopatas odeiam ser desmascaradas e podem ser violentas quando são finalmente descobertas. É melhor não enfrentá-las – apenas se afastar e cortar todo contato, físico e virtual.
A 5ª edição do manual de diagnóstico estatístico de distúrbios mentais (DSM-5), divulgada pela Associação Americana de Psiquiatria em 2013, lista tanto a psicopatia quanto a sociopatia sob o título de “transtornos de personalidade antissocial”. Os traços-chave que os sociopatas e os psicopatas têm em comum incluem:
desrespeito pelas leis e costumes sociais;
desrespeito pelos direitos dos outros;
falta de empatia, remorso ou culpa; tendência para mostrar comportamento violento.
O terceiro filme que recomendo a você é “Eu me importo”. Nele, uma mulher com “cara de anjo”, respeitada na sua profissão, consegue aplicar golpes em pessoas idosas. Não vou dar mais detalhes, mas é bem interessante. Vale a pena assistir!
Psicopatas nunca deixarão de existir e não têm a capacidade de mudar para melhor. Então, nossa única proteção é conhecimento e menos ingenuidade na hora de nos relacionarmos com pessoas sedutoras e encantadoras!