Venho percebendo, em mulheres cada vez mais jovens, inúmeras dúvidas sobre a maternidade — muitas chegam angustiadas ao meu consultório. Não sabem se querem engravidar e se cobram por esse sentimento, que é diferente do que a sociedade espera da mulher. Relatam até um mal-estar quando comentam, no ambiente familiar-social, que não querem ter filhos.
Sempre explico que isso é supernatural. O mundo atual oferece muitas possibilidades, e a gravidez pode representar um empecilho nesse contexto atraente de formação profissional, viagens pelo mundo, assim como outros projetos pessoais.
É notório o crescimento de mulheres entre 30 e 35 anos buscando a alternativa do congelamento de óvulos. O objetivo é atrasar não só a decisão de engravidar ou não, como também a gravidez em si. Em 2021, as Clínicas de Reprodução Assistida do Brasil computaram um aumento de 40% (Fonte: Veja-SP, Caderno Saúde de 14/02/2021). E essa é a idade ideal — quando são produzidos óvulos em quantidade e qualidade suficientes — para aumentar a chance de sucesso no futuro.
São esses jovens, nativos digitais (geração millenials), que encontro, frequentemente, buscando essa alternativa. Eles vivem este mundo acelerado e têm muitas inseguranças e medo do futuro: como estará o mundo daqui a 10 anos? Que problemas as gerações futuras vão enfrentar? Aquecimento global, falta de água e comida? Devo ter um filho nesse mundo de incertezas?
Então, o congelamento de óvulos veio para acalmar o coração das mulheres! É um sopro de tranquilidade para as mentes inquietas de quem está tentando viver o presente, porém com o olhar no futuro: Ok, posso adiar a decisão e fazer minha opção com calma, sem a pressão do relógio biológico.
Observei que a pandemia aguçou, para pessoas que pensam na possibilidade de ter filhos no futuro, a importância da família. Estar em “home office” permitiu esse “insight”. Esse tempo dedicado à casa trouxe a valorização do ambiente familiar. Para aqueles que desejam a gravidez agora, a busca foi pelos tratamentos nas clínicas de fertilização. Para os que querem postergar a constituição da prole, a corrida foi para o congelamento de óvulos.
Vamos com calma, mulherada! Converse com seu ginecologista sobre dúvidas e angústias. Esse profissional é a pessoa certa para ajudar a esclarecer e orientar sobre as opções que melhor se encaixam dentro dos planos de vida de cada uma. Planejamento é a palavra de ordem neste momento do mundo, em que tudo acontece tão rápido, apenas ao toque do dedo.
Maria Cecília Erthal é diretora-médica e especialista em Reprodução Humana Assistida do Vida-Centro de Fertilidade. Formou-se em Medicina em 1982, especializando-se em ginecologia e obstetrícia, tendo como sonho ajudar as mulheres a engravidar. Em 2004, inaugurou o Centro de Fertilidade da Rede D’Or, que, em 2011, transformou-se no Vida Centro de Fertilidade.