Março de 2020. Fim do carnaval, eu ainda tinha purpurinas pelo corpo quando a notícia chegou: um vírus mortal anunciava o fim do mundo. Eu me recolhi — em casa e pela primeira vez sozinha. Explico: bem no início da quarentena, minha caçula, a única filha que ainda morava comigo, avisou que estava se mudando para a casa do namorado. E disse mais: ia levar a gata com ela. Fiz um drama, chorei, me atirei no chão e, no fim, aceitei; em seguida, fui à luta. Durante os primeiros meses, a vida se resumiu a entender o novo modelo de trabalho “home office”, aos cuidados com a casa e a lidar com o exílio imposto pela tragédia mundial. Minha distração eram as conversas intermináveis com meus amigos (tenho muitos) e entre eles, a Luciana Neiva, amiga de longa data e jornalista, como eu. Viramos noites, trocando impressões sobre as incertezas do futuro do mundo, das relações e dos amores improváveis.
Conversamos tanto que, um dia, nosso “repertório” acabou: não tínhamos mais o que contar uma para a outra. Foi daí que surgiu a ideia de juntarmos uma turma de amigos para escrevermos, juntos, um livro sobre o amor em tempos de confinamento. Precisávamos de opiniões diferentes, de novos pontos de vista, enfim… Criamos um grupo no WhatsApp, de 27 pessoas — jornalistas, escritores, roteiristas e artistas — e, um mês depois, os contos começaram a chegar. Em maio de 2021, “Amores Confinados — Histórias românticas em tempos virulentos” ficou pronto. Com edição impecável de Bruno Drummond, foi lançado pela Bloco Narrativo. A pré-venda do livro foi feita pela plataforma Catarse, esta ferramenta simpática que ajuda a cultura a andar pra frente.
O livro foi vendido em tempo recorde, virou assunto e revelou o óbvio: o amor rende!
Então, passada a euforia do lançamento, veio a angústia de continuar elaborando o futuro de um tempo incerto, tragado pelo destino desconhecido que nos atacava mais do que o vírus teimoso. E decidimos: precisamos falar sobre o Tempo. Quem somos, agora? O que restou de nós? Para onde vamos caminhar? E mais: por que precisamos caminhar?
De novo, eu e Lu juntamos forças: além dos autores de “Amores Confinados”, convidamos outros amigos para o desafio de escrevermos “Tempus Fugit — Histórias de morte, sobrevivência e recomeços”, que está à venda no Catarse até o dia 13 de dezembro.
O que se deu, então, foi uma enxurrada de contos fantásticos que, mais uma vez, apresentava a força da palavra sob a dor: todo mundo tinha uma história pra contar, todo mundo perdeu alguém, todo mundo sentiu a “barra pesada” e todo mundo morreu um pouquinho. O prefácio, assinado por nossa querida amiga Andréa Pachá, reforça que os dois livros são um documento de época, um registro imortal de um período que jamais esqueceremos. E que nem o tempo será capaz de apagar.
Eu, em particular, tive uma grande perda: Jorge, meu ex-marido, com quem fiquei casada por 17 anos, morreu, em maio, de covid. E morreu muito rápido, em apenas três dias. Foi um choque, uma tragédia. Foi o Real “dando as cartas.” Em “Tempus Fugit”, meu conto fala sobre isto: uma mulher, Ana Maria, que, passada a pandemia, descobre, pelo olho mágico de sua porta, que, de alguma forma, ela não existe mais e que, diante do espectro de si mesma, terá que arrumar um jeito de driblar o tempo e suas armadilhas. E não será isso o “viver”?
Bem, o livro está à venda no Catarse, custa R$ 45 e tem tiragem limitada. Convido todos a participarem dessa aventura maravilhosa: descobrir que, só através da arte, driblaremos a violência do tempo. Viva a vida!
Marcela Esteves é jornalista, roteirista e escritora. Sócia da Plano & Mídia, agência de comunicação, é uma das organizadoras dos livros “Amores Confinados — Histórias românticas em tempus virulentos” e “Tempus Fugit — Histórias de morte, sobrevivência e recomeços”, lançados durante a pandemia.