Para que serve uma rede social?
a) Conectar pessoas;
b) Compartilhar conteúdo;
c) Permitir a discussão de ideias;
d) Espalhar memes, gifs, emoticons e feiquenius;
e) Xingar, cancelar, difamar, humilhar, ofender, trolar.
Ainda não saiu o gabarito, mas receio que a letra “e” seja a resposta mais provável, seguida de perto pela “d” e tendo a “c” na rabeira, com zero vírgula qualquer coisa por cento.
Se as pessoas se relacionassem na vida cotidiana com a aspereza, a desconsideração e a incivilidade com que se tratam no mundo virtual, sair de casa seria um ato de insanidade. No corredor do prédio o vizinho nos cuspiria na cara, no elevador levaríamos uma cotovelada, na portaria alguém nos pregaria nas costas um bilhete de “Chute-me”, na calçada receberíamos uma voadora e chegar ao outro lado da rua sem nenhuma fratura poderia ser considerado uma vitória.
Reza a lenda que no dia seguinte à invenção do cinto de castidade foi colocado no mercado o abridor de lata. A ferramenta para bloquear um usuário indesejável deve ter sido desenvolvida meia hora depois do lançamento do Facebook, do Instagram ou do Twitter — se tanto.
Mas bloquear não é calar ninguém: é se poupar de ser importunado ou agredido.
O bloqueado pode continuar dizendo o que quiser, no tom que bem entender, com os palavrões e maiúsculas que melhor lhe aprouver — mas no seu próprio perfil. Pode professar suas teorias conspiratórias, defender as atrocidades dos seus ídolos, fazer apologia de regimes de exceção — mas para o seu público, no seu palanque.
Ao bloquear alguém eu não lhe tiro direito algum: apenas garanto os meus.
Tenho usado esse recurso com menos parcimônia do que antes. Porque a maturidade não se manifesta apenas na vista cansada, na dor nas juntas e na necessidade de ir ao banheiro no meio da madrugada: ela também serve para informar das lutas que vale a pena lutar, das roubadas em que compensa entrar. Argumento gera argumento — e aí se dá o milagre do diálogo, que é quando o diferente não precisa ser visto como oposto e pode ser complementar. Os valores são colocados à prova e saem fortalecidos – seja porque se mostraram válidos, seja porque foram revistos.
Todo jogo tem regras, e as do diálogo são claras: respeito, respeito e respeito.
Por trás de cada “Me bloqueou porque não aceita opinião diferente” costuma haver alguém que acha que ofensa é opinião. Não é.
Na sua própria casa, a pessoa pode botar o pé no sofá, apagar cigarro na orquídea, enfiar no pote de maionese a mesma colher que levou à boca com doce de leite, assoar o nariz na cortina, gritar palavrão. Pode derrubar corote no tapete, soltar foguete na direção do lustre, fechar a geladeira com um coice, cuspir no chão.
Na minha, não.