“Não há mal que dure para sempre”, diz o biólogo Mario Moscatelli sobre o leilão da Cedae, cujos blocos 1 e 3 (divididos por bairros) foram arrematados pelo consórcio Aegea, com lances de R$ 8,2 bilhões e R$ 7,2 bilhões, respectivamente; e Iguá, representada pelo BTG, que levou o bloco 2, por R$ 7,3 bilhões, nesta sexta (30/04). “Para resumir a situação de um passivo ambiental gigantesco. Bacias hidrográficas foram transformadas em valas de esgoto; lagoas e praias, em latrinas; os projetos e programas de despoluição não disseram ao que vieram; a Baía de Guanabara é um verdadeiro depósito de obras ineficientes e inacabadas. A nova concessão vai ter muito trabalho pela frente”, afirma o biólogo, há 30 anos como fiscal do meio ambiente carioca, sem vínculo com órgãos oficiais. “Para pagar essa fatura que a estatal nos deixa, o trabalho vai ser interminável, mas podemos ter uma expectativa de melhora nos próximos 10 anos. Como contribuinte e comprador dos serviços, o que se espera é qualidade e preços competitivos pelos serviços executados.”
Enquanto funcionários da estatal, a maioria dos deputados da Alerj, muitos políticos, sindicatos e movimentos fizeram de tudo para cancelar a venda, Mario se diz esperançoso já que o leilão aconteceu depois de mais de um ano, em que parte da população fluminense é abastecida com água de má qualidade, em uma das piores crises hídricas da história do estado. A concessão propõe mudar completamente os serviços de abastecimento e esgotamento sanitário da capital e de outros 34 municípios em 35 anos. O consumidor vai sofrer com isso? “Já pagamos por um serviço de péssima qualidade, quando ele existe. Nós vivemos, em termos de abastecimento e saneamento, um estelionato institucionalizado. Paga-se por um produto que não é entregue; então, o resultado prático é essa situação de cidade sitiada por coliformes fecais. Se alguém está satisfeito com isso, provavelmente é quem ganha. Pelo que tenho acompanhado, dos documentos de modelagem do BNDES, corre-se o risco de pagar a mesma coisa, só que com uma diferença: daqui a 10 anos, vamos ter rios menos contaminados, praias e lagoas idem, a baía em processo de recuperação; enfim, o futuro a Deus pertence, mas, do jeito que está, pior não fica. O que vamos precisar cobrar é o cumprimento dos contratos, das metas e cronogramas. Não tem mocinho nessa história — pior do que a Cedae, é difícil. Vai ter que se esmerar muito.”