Lembro muitíssimo bem, quando, em inúmeras vezes, várias matérias alertavam sobre o estado precário das instalações do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Não foi uma nem duas, mas inúmeras vezes em que foram apresentadas as vulnerabilidades que punham em risco aquele patrimônio nacional e mundial da história da vida e da humanidade.
No que deu? No incêndio que devorou tudo que existia, sobraram migalhas do acervo e das lembranças de milhões de brasileiros que, em algum dia, conheceram o museu, nos quais eu me incluo.
Responsáveis? Desconheço no que deram a análise do incêndio e a apuração de responsabilidades. Provavelmente, salvo engano, não vai dar em nada, e fica o dito pelo não dito. A propósito, recentemente, estava sendo avaliada a mudança de finalidade, sabe-se lá para quando, do “novo” museu.
Mas, afinal, qual a relação do incêndio com a geosmina?
Desde 1999, eu, pessoalmente, tenho alertado, denunciado e cobrado publicamente das autoridades uma solução para aquela situação criminosa do ponto de vista ambiental e de saúde pública, referente ao despejo de esgoto no ponto de captação das águas do rio Guandu.
No que deu? Nada, até hoje!
Em 2020, a primeira crise, muitas promessas e resultado prático nenhum.
Em 2021, a segunda crise, que continua até abril do corrente ano.
As duas recentes novidades foram o aumento do projeto que, de 92 milhões em 2020, pulou para 132 milhões em 2021, fato que ainda não entendi o motivo, e a instalação de uma bomba que, pelo que entendi, posso estar errado, funcionará para jogar água do rio Guandu, para dentro da lagoa que estoca esgoto, isto é, vão diluir esgoto!
Como o histórico de gestão de obras que envolvem a estatal não é nenhum modelo de competência, tampouco de eficiência (opinião de consumidor), chamo a sua atenção para que acompanhe a explicação que darei resumidamente a seguir.
A diluição do esgoto industrial e doméstico por meio do uso da tal “bomba emergencial”, eu, francamente, não consigo entender a função do ponto de vista ecológico e prático!
Durante décadas, esse esgoto, os nutrientes e os poluentes que foram criminosamente (minha opinião) lançados junto ao ponto de captação da estação de tratamento de água do Guandu, parte podem ter sido transportados, outros incorporados na biomassa, mas outros podem estar nos sedimentos da lagoa.
Portanto, jogar água do rio Guandu na tal lagoa, eu não consigo captar qual será a diferença esperada pelos experts da estatal, visto que os nutrientes e poluentes continuarão chegando pelos rios contaminados e, em parte, acumulando-se no fundo anóxico (sem oxigênio).
É desse fundo e da coluna d´água que os nutrientes são liberados para a multiplicação de micro-organismos que produzem geosmina e cia.
Outro aspecto importante diz respeito a qual será o efeito dessa diluição, dessa água bombeada, provavelmente mais rica em oxigênio proveniente do rio Guandu sobre os sedimentos anóxicos? Destaca-se que o oxigênio em sedimentos pobres ou com ausência de oxigênio liberam metais e outros produtos da degradação ambiental aprisionados nesse sedimento, tornando-os biodisponíveis!
Portanto, gostaria de sugerir, visto que de medidas pirotécnicas a baía de Guanabara, por exemplo, já está cheia, onde obras e mais obras de saneamento que consumiram centenas de milhões de reais não disseram até hoje efetivamente do ponto de vista ambiental ao que vieram que um mesmo cenário – não venha a se repetir no ponto de captação do rio Guandu.
Não temos mais tempo nem dinheiro para gastar em medidas pirotécnicas sem eficiência comprovada.
A sugestão é a seguinte e a faço diretamente ao senhor governador do Estado do Rio de Janeiro: criação de um comitê científico envolvendo limnologistas, ecólogos da UFRJ e UFRRJ, ecotoxicologistas da UFRJ e FIOCRUZ e biogeomquímicos da UFF, visando, de forma concisa e científica, opinar e principalmente monitorar sistematicamente, durante o período de hoje até um ano após a finalização das obras preconizadas, as condições e flutuações ambientais referentes aos aspectos físico-químicos e biológicos do sedimento, água e biota local, com a publicação periódica dos resultados de forma palatável para a população consumidora.
Só dessa forma, poderemos transmitir confiança à população consumidora da qualidade da água que irá para milhões de moradores da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, após décadas de descaso criminoso (minha opinião).
Alerto ao senhor governador que, da mesma forma que aconteceu com o Museu Nacional, mais uma vez as autoridades vêm sendo alertadas sistematicamente, sobre o perigo que mais um patrimônio socioambiental está correndo, não apenas envolvendo a história, mas agora a qualidade de vida de milhões de cidadãos e cidadãs da Região Metropolitana.
Agradecido
Obs.: Não faço parte de nenhuma das instituições científicas indicadas.