Sentir inveja é ruim? Errado? Muitas vezes, esse sentimento acaba sendo reprimido, escondido, julgado, condenado, como se fosse algo muito feio e muito errado. Não costumamos permitir-nos abertamente sentir inveja dos outros. E como lidar com a inveja do outro? Será que devemos esconder quando estamos bem, ou quando estamos nos sentindo melhor que os outros?
Alguns anos atrás, pouco tempo depois de eu ter chegado ao Brasil, uma pessoa me perguntou como eu me sentia e se estava bem adaptada ao País. Para contextualizar, sou francesa; cheguei ao Rio de Janeiro para morar, em 2009. Respondi-lhe com um sorriso imenso no rosto — e muita ingenuidade — que eu estava muito feliz aqui, com meu marido, e que era, sem dúvida um dos melhores momentos da minha vida.
Fiquei surpresa pela resposta dela: “Nossa, Marie! Você não pode falar isso pra todo mundo; não é todo mundo que pode suportar ouvir isso.”
Naquele momento, meu sangue gelou: não esperava esse tipo de reação por parte dela. Imagino que deveria estar com uma certa inveja; senti amargura na fala dela. Na França, temos um ditado que diz: para viver feliz, tem que viver escondido, ou seja, a felicidade não pode ser mostrada. Por que será?
Quando comecei a me sentir muito realizada, tanto na vida pessoal quanto profissional, passei a sentir, culpa, vergonha e medo de ser invejada e atacada. Sentia culpa por sentir-me bem, enquanto outras pessoas estavam infelizes. E vergonha de mostrar que eu estava feliz. Tornei-me consciente disso alguns anos atrás e comecei a trabalhar essa questão em mim. Hoje em dia, acredito que nenhum sentimento seja ruim em si. Todo sentimento é um valioso mensageiro de necessidades atendidas ou não atendidas.
Quando você vê uma pessoa se mostrando de férias em algum lugar paradisíaco e você sente inveja, o que esee sentimento está querendo dizer-lhe? Que você gostaria de ir àquele lugar (estratégia) ou que você precisa de descanso e mais leveza na sua vida (necessidades)?
Quando você vê uma pessoa dirigindo um carro de luxo, a sua inveja está lhe dizendo que você quer o mesmo carro (estratégia), ou que você gostaria de ter mais poder, conforto, respeito, admiração e consideração (necessidades) quando você chega a algum lugar com seu carro?
Saber reconhecer e acolher a nossa inveja ou a inveja do outro — para entender quais necessidades não satisfeitas estão por trás — pode gerar um alívio imenso. Assim, podemos tomar uma atitude e mudar nossa situação para o melhor. A consciência é o primeiro passo para a mudança; senão, aquele sentimento pode roer e desgastar-lhe por dentro.
Se você entendeu que precisa de mais leveza e de descanso na sua vida, pode, com esse nível de consciência, procurar desacelerar um pouco e, talvez, planejar férias ou um fim de semana em algum lugar para descansar, em vez de alimentar seu sentimento de inveja.
Deixo aqui o meu convite: na próxima vez que identificar estar com inveja, procure identificar as necessidades que estão por trás, para definir uma forma de atendê-las. Quando se trata da inveja do outro, poderá se tornar mais compreensivo e tolerante, e entender que aquela inveja não tem a ver com você, e sim com as necessidades não satisfeitas da própria pessoa. Boa semana!