Nesse fim de semana, assisti ao filme “À prova de fogo”, recomendado por um aluno quando lancei o Método Conecta — um método eficaz de comunicação para desarmar conflitos e melhorar relacionamentos.
O filme trata de um casal lindo e jovem querendo separar-se depois de alguns anos de casamento. Os principais sintomas que levaram o casal a querer o divórcio parecem ser uma falta de cuidado um com outro e uma comunicação cada vez mais agressiva. Logo no início do filme, podemos observar uma ausência de diálogo e de empatia mútua: acusações, julgamentos, críticas, gritos, cada um ferido e ferindo, não se sentindo compreendido pelo outro, alimentando frustrações e raiva.
Segundo o psicólogo Marshall Rosenberg, a violência é a expressão trágica de necessidades não atendidas. Depois de 10 anos estudando a comunicação e os conflitos, posso dizer que não há sombra de dúvida de que as pessoas brigam, muitas vezes, por falta de consciência das próprias necessidades e por não saber expressá-las sem criticar, acusar ou julgar. O reflexo da maioria é jogar a culpa no outro: o outro é que não entende, que não faz as coisas corretamente etc. Gasta-se muita energia, procurando um culpado, cada um achando que está certo e que o outro está errado. Não é assim?
Bem, semana passada, passei por uma situação parecida no contexto profissional. Tive que enfrentar um conflito com uma pessoa que tinha se mostrado interessada em formar uma parceria para me ajudar em alguns projetos. Depois de três meses sem definição clara, eu estava me sentindo frustrada porque, entre cada reunião que fazíamos com nossas equipes respectivas, essa pessoa sumia e mal respondia às mensagens que eu mandava para ela. Esses sumiços acabavam atrasando nossos projetos.
Algumas vezes, pedi a essa pessoa que conversássemos em privado, mas meu pedido nunca foi atendido. Depois de algumas semanas vivendo essa situação muito desconfortável, tentando marcar uma conversa para ouvir e compreender a situação, resolvi expressar a minha frustração por mensagem, através de uma comunicação consciente e mais construtiva possível.
Na minha cabeça, eu já estava imaginando vários motivos pelos quais ela estava se recusando a falar comigo, achando-a arrogante e prepotente. Depois de a pessoa ter ouvido a minha mensagem, aconteceu um “milagre”. Recebi, finalmente, uma resposta dela. O tempo todo, na sua resposta, estava procurando pôr a culpa em mim, mas, no meio dos seus argumentos, expressou que não tinha visto o filho durante alguns meses, por conta do trabalho.
Ou seja, naquele momento, eu consegui enxergar a vulnerabilidade por trás dessa pessoa e da sua atitude, e tudo começou a ficar mais claro. Entendi que, no fundo, essa pessoa estava atolada de trabalho, que não estava dando conta, e tinha dificuldade em me dizer aquilo. Entendi que mostrar uma parte de vulnerabilidade, de não resolver tudo e não conseguir me ajudar na velocidade que eu precisava, estava sendo muito difícil pra ela.
No lugar da frustração, comecei a sentir empatia e compaixão por ela. Percebi que devia se sentir muito mais frágil do que ela estava querendo mostrar, sendo muito exigida e tendo que entregar cada vez mais resultados para seus parceiros. Essa situação foi mais uma demonstração do poder da expressão de vulnerabilidade. A clareza e a compreensão, de repente, acalmaram a minha raiva.
O que isso tem a ver com o filme que eu mencionei acima? Não vou contar o fim da história, mas, em algum momento, o marido começa a expressar seus sentimentos e a pedir perdão, mostrando-se vulnerável ao invés de agressivo. Disse que estava muito triste e reconheceu seus erros.
A conclusão é a seguinte: para que o outro nos compreenda e sinta compaixão por nós, quando não estamos satisfeitos na relação, é fundamental aprender a expressar como nos sentimos e reconhecer nossa parte de responsabilidade no problema, sem acusar ou culpar o outro. Ser transparente e sincero costuma gerar conexão e facilita a resolução de conflitos.
Mostrar nossa parte de vulnerabilidade não é sempre fácil — pode exigir muita coragem em determinadas situações, como, por exemplo, dizer que não estamos dando conta no trabalho. Isso, porém, vai ser absolutamente necessário se não quiser enfrentar conflitos mais graves no futuro. Pense nisso!