Lembro bem que, em março de 2020, eu tinha uma palestra para dar na escola onde desenvolvo um trabalho educacional com crianças e adolescentes. A palestra foi cancelada por causa da pandemia e, de lá para cá, tudo mudou – pelo menos, para mim e para a minha família. Do primeiro caso confirmado para cá, lá se vão um ano e 250 mil mortes confirmadas associadas com o tal eficiente vírus.
Inúmeras noites sem dormir, ansiedade, tristeza e depressão dentro de um túnel escuro onde não se vislumbra a tal luz no final do mesmo. Temos relâmpagos de esperança, entremeados por novas mutações que colocam à prova a capacidade das vacinas à disposição atualmente para os mais velhos e para aquelas nações que de fato estão administrando, nem sempre de forma tão eficiente, a maior crise de saúde planetária dos últimos 100 anos.
A sensação e constatação de trem bala desgovernado é clara. A constatação do desgoverno, de ter de trocar o pneu com o caminhão andando é óbvia. Destaca-se que não é exclusividade do poder público a falta na gestão da crise; é também do lado de cá do balcão, que a pouca importância dada à carnificina é nítida.
Cadê as vacinas? Cada lado tem uma resposta e uma teoria conspiratória para o desabastecimento ainda evidente.
Cadê o comportamento minimamente consciente daqueles que não precisam se entalar dentro dos meios de transporte entupidos e se esbaldam em eventos festivos? Sinto-me numa sociedade que fracassou e insiste em fracassar diante de um inimigo implacável e com diretrizes bem claras em seu material genético.
Quanto mais transmissão do tal vírus, maior a probabilidade de novas mutações, potencialmente mais letais e mais transmissíveis, mas nada, absolutamente nada, muda o comportamento e a retórica de parcelas significativas dessa sociedade, acostumadas a levar tudo na sacanagem.
Vivo um momento de cansaço não apenas produto da pandemia e de tudo que ela tem aflorado de nosso comportamento social patológico, mas também da constatação dos mesmos grandes crimes ambientais sendo cometidos sistematicamente sem os devidos castigos estabelecidos pelos calhamaços de leis que, na prática, têm servido para pouca coisa em termos de conservação, preservação de nossos recursos naturais.
Estruturas criadas para proteger e recuperar acabam se tornando campos de extermínio, como denunciado dias atrás pela imprensa, no abrigo do órgão ambiental federal em Seropédica. Sou da opinião que cada macaco no seu galho. Se me pusessem para comandar uma fragata, não tenho dúvida de que, em pouco tempo, estaria afundando a embarcação sem ter dado sequer um tiro! Afinal estudei para gerir o ambiente, e não para dar tiro.
Nesse contexto, eu, sinceramente, nunca vou entender essa obsessão que cada corrente ideológica, cada panela política têm de colocar sua turma no comando da coisa pública, indistintamente de sua formação e sua formação para a missão.
Anos atrás, a turma dos sindicatos e simpatizantes era a classe dominante na estrutura pública. Bastava ser de qualquer sindicato para ter a carteirinha do partido da situação, que o companheiro ou companheira já eram recebidos de braços abertos, competente ou não para o cargo. Deu no que deu.
O tempo passou, e agora é a hora de a turma dos militares da ativa e da “passiva” tomarem conta da máquina pública. O mesmíssimo processo de aparelhamento se repete, com gente não preparada tecnicamente para funções específicas alheias à formação militar. Basta ser militar ou simpatizante, que já está dentro! Está dando no que está dando.
Em resumo, busco um dia para ser feliz, mas, para isso, sei que preciso manter meu foco, minha fé e meu compromisso com minha responsabilidade pessoal e profissional. Isso não é fácil num lugar que despreza a vida, tanto a humana como a natureza que nos sustenta. Enfim, missão dada, missão cumprida.