Estou morando em Israel há alguns anos e, como jornalista, sou uma observadora nata e voraz dos acontecimentos do mundo. Num comparativo entre aqui e aí, observo duas realidades dentro de uma única epidemia: enquanto o Brasil vive uma corrida desenfreada por doses da vacina, o governo de Israel vive uma corrida desenfreada atrás da população para vaciná-la (e de uma maneira diversificada e criativa). Para ter uma ideia, um posto móvel de vacinação (lembrando que o imunizante é o da Pfizer-BioNTech, com 92% de eficiência depois da primeira dose) foi montado num bar na Dizengoff, em Tel Aviv, para que jovens fossem vacinados entre goles de cerveja. Isso mesmo: vacinação em plena noite — não é incrível?
Já, na cidade de Raanana, os moradores que se vacinaram foram até presenteados com pizzas. Dei mole: me vacinei no jeitinho “tradicional” e perdi uma cerveja. No próximo dia 24, completam sete anos que cheguei a Israel, e ainda não me desliguei do noticiário brasileiro, principalmente sobre a vacinação. Um detalhe que me chamou muita atenção foi o procedimento nos postos daí: as pessoas preenchem um cadastro e depois são encaminhadas para receber a vacina. Em Israel, graças a um sistema de saúde, em que todos os seus dados são armazenados de maneira digital, tudo é mais simples e eficiente.
Quando cheguei ao posto de saúde, já pré-agendada para o dia 9 de fevereiro, esperei quatro pessoas serem vacinadas na minha frente, sentei diante da enfermeira, e ela passou meu cartão magnético no computador. Apenas confirmou meus dados, que já apareciam na tela, fez perguntas sobre alergias e pronto. Vacina aplicada! Cinco dias depois, recebi uma mensagem no celular, com data e local da segunda dose. Apesar da simplicidade, alguns poucos não querem tomar a vacina por diferentes motivos; a partir daí, começa o problema entre o direito de escolha do cidadão e o governo.
Contudo, ainda assim, aqui temos a maior cota per capita de doses inoculadas no mundo. Se continuarmos nesse ritmo, teremos aplicado as duas doses em metade da população até fim de março. E mais: a campanha de vacinação israelense mostrou sucesso estrondoso. O número de casos sintomáticos, entre quem já recebeu as duas doses, simplesmente caiu 93%. Isso, segundo dados das seguradoras de saúde locais.
Nós tivemos três lockdowns em Israel, o que afetou demais a economia do país, e, na emergência de voltar ao “normal”, o governo está emitindo um “passaporte verde” para os vacinados. A ideia é que, a partir da próxima semana, essas pessoas possam entrar em academias, teatros, hotéis e comecem a “viver” um pouquinho!
O Ministério da Saúde garante que o cidadão não será obrigado a se vacinar, mas existe um “clima de pressão” em cima daqueles sem o documento. Fato é que, até agora, dos 9 milhões de habitantes do país, 4,2 milhões receberam a primeira dose, e 2,8 milhões, a segunda, desde o início da campanha, em 19 de dezembro. Por fim, deixo minha torcida e fé para que, assim como os israelenses, os brasileiros também sejam vacinados o mais rápido possível.
Sabrina Grimberg, jornalista carioca, morando em Israel. É editora de assuntos do Brasil no aplicativo de esportes 365Scores, de Tel Aviv.
Por Acyr Méra Júnior