Algum tempo atrás, escrevi sobre a série “Emily in Paris” e o quanto eu amei. Desta vez, viciei-me vendo “Bridgerton”, a série mais vista da Netflix de todos os tempos. É um drama romântico sobre o universo competitivo da alta sociedade da Regência Britânica no século XIX, com uma produção bastante surpreendente. Quebrou recordes de audiência, com mais de 82 milhões de assinantes e ficou número 1 em 83 países.
Achei interessante observar como as escolhas são feitas o tempo todo pelos personagens, com base nos seus valores, princípios e necessidades. Honra, família, amor, prestígio, justiça, verdade, respeito, sustento, inclusão… Segundo Marshall Rosenberg, psicólogo americano e pai da Comunicação Não Violenta, tudo que o ser humano faz tem por objetivo atender às suas necessidades e respeitar seus valores. Quando alguém não age dessa forma, costuma julgá-los e rotulá-los. Por exemplo, se uma pessoa não fala a verdade, ela é “uma mentirosa”; se não se sustenta, ela é “uma incapaz”.
Desde a nossa infância, somos julgados e ensinados a julgar o outro em vez de exercitar a empatia, para buscar compreender quais necessidades ou valores motivaram suas decisões e atitudes. Na série, um dos irmãos da família Bridgerton não consegue assumir uma relação de amor com uma cantora de ópera, em função da diferença de classe social dessa mulher por quem está totalmente apaixonado.
Para ele, honra, família, inclusão e prestígio são valores mais fortes do que o amor naquele momento, enquanto, para sua irmã, o amor vem em primeiro lugar na hora de escolher seu pretendente para casar-se. Muitas pessoas podem chamar o irmão de covarde e a irmã, de corajosa, mas esse tipo de rótulo não costuma ser construtivo para as relações.
Para construir relacionamentos saudáveis, harmoniosos e duradouros, é fundamental desenvolver a capacidade de compreender o outro ao invés de julgá-lo. O julgamento só afasta e costuma alimentar situações de conflito, pois a pessoa que se sente julgada tende a pôr toda a energia dela para se defender ou contra-atacar. Em contrapartida, a capacidade de ouvir com empatia costuma gerar confiança e abrir possibilidade de conversas mais construtivas.
Não posso dar muitos detalhes sobre a série caso ainda não tenha assistido. Contudo, podemos observar claramente, em várias cenas, como a capacidade de empatia fez toda a diferença, principalmente durante situações delicadas, conflituosas e conversas difíceis. Uma das personagens consegue manter seu casamento graças à capacidade de compreender algumas atitudes do marido, que costumavam feri-la. Demonstrando abertura em ouvir e compreender, ela consegue desarmar os conflitos e fazer com que seu parceiro mude de atitude com ela.
Na minha experiência, a empatia é a chave para preservar nossos relacionamentos mais preciosos. Para ter relacionamentos de longo prazo, pessoais ou profissionais, precisamos aprender a dialogar, ouvir, expressarmo-nos de forma consciente, construtiva e respeitar sentimentos e pontos de vista diferentes. Foi com esse objetivo que criei o Método Conecta, um passo a passo que ajuda a manter presente e estruturar nossas ideias na hora de uma conversa difícil.
O primeiro passo é ter a mente aberta para demonstrar curiosidade e fazer perguntas abertas para abrir o diálogo; isso deve tornar-se um reflexo e uma arte ao mesmo tempo. Os próximos passos são ouvir com atenção plena, não julgar, empatizar (identificar sentimentos e necessidades ou valores), checar (reformular o que compreendeu), para depois se expressar, de forma sincera e autêntica, tendo cuidado com a forma e escolhendo cada palavra de maneira consciente.
Enfim, palavras podem ser janelas ou paredes. Julgamentos costumam construir muros enquanto a empatia cria conexão e é a chave para criar a ponte entre dois corações.