2020 entrou para a história. Foi um ano marcado por muitos perigos para toda a humanidade, em que tivemos que nos guiar contra a morte, em que vários grupos de minorias sociais se levantaram contra seus opressores. E chegamos a 2021, que será regido e influenciado por Oxalá e Oxum. Apesar de esses orixás serem mais reconhecidos pelos arquétipos de paciência e sabedoria, doçura, amor e maternidade, ainda teremos um ano marcado por muitos problemas e perigos, mortes prematuras e várias formas de opressão.
Oxalá rege o ar e a água, um orixá que simboliza a paz, a sabedoria e, ao mesmo tempo, um orixá que estabelece a ordem através da guerra. Sim, ainda teremos muitos desafios a serem enfrentados. O poder criativo, estratégico que favorece mais o raciocínio do que a emoção, junto à diplomacia de Oxum, indicará a forma em que esses conflitos vão acontecer.
É necessária a prática da paciência, da flexibilidade e da maleabilidade; a teimosia deverá ser evitada. Oxalá, como orixá supremo da criação dos seres humanos e todas as formas de vida no mundo, nos indica que devemos cuidar mais da nossa saúde e da saúde dos que vão nascer, para que as crianças que estejam planejadas não venham com nenhuma má formação.
Um dos tabus desse orixá é a mentira, portanto devemos ser verdadeiros, honestos e retos para evitarmos as influências negativas.
Oxum é o orixá que rege a água, a riqueza, o amor, o cuidado com as crianças. Está ligado ao poder de gestar, orixá da diplomacia, da vaidade, do belo. Oxum representa o empoderamento feminino, orixá do autocuidado, que transcende a luz à sua volta, o cuidar de si para que estejamos prontos a cuidar do próximo.
Com a influência deste orixá, vamos contar com a força das mulheres para resolvermos os problemas que os homens não conseguiram. Oxum é Iyalodê, Orixá que é marcada pela sua doçura, mas, ao mesmo tempo, por sua força e poder de liderança. Por sua influência, podemos ver muitas mulheres despontando em cargos de liderança e chefia. Aos homens é aconselhado um bom relacionamento de respeito com as mulheres, principalmente as mais velhas da família.
A influência das águas em estado líquido, gasoso e o ar nos inspira acolhimento, transformações através da coletividade, a precipitação de chuvas, encharcando o solo e propiciando boas colheitas, mas somente há boa colheita se também semearmos a Terra, começando com a nossa interior, assim nos fortalecendo e gerando bons frutos para nós e para todos que estão à nossa volta.
Ivanir dos Santos é Babalaô (sacerdote de Orunmilá-Ifá do Culto de Ifá na religião iorubá, das culturas jeje e nagô), professor de pós-graduação em História Comparada da UFRJ e interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR). É um nome fortíssimo no combate ao racismo e, principalmente, contra a intolerância religiosa, há mais de 40 anos. No ano passado, recebeu o prêmio “Religious Freedom (IRF)”, entregue pelo State Department’s Office of International Religious Freedom, em Washington (EUA), sendo o único líder religioso premiado do Ocidente.