Ufa! 2020 chegou ao fim. Estávamos todos ansiosos pela chegada de um novo ano! 2020 vai ficar para a história — durante muitos anos, não vamos esquecer tudo o que passamos, mas, como sempre, têm pontos positivos e negativos. Os negativos nós já conhecemos bem: homens e mulheres inteligentes e poderosos foram parados por um ser invisível a olho nu. Parece ficção científica, mas foi e é a realidade do ano que termina e que, infelizmente, ainda continuará no próximo ano.
No entanto, tem outro “vírus” na sociedade que é pouco comentado: o “vírus” do egoísmo e do individualismo. Olhamos muito para as necessidades individuais e buscamos incansavelmente por uma felicidade que aparentemente está no poder e no dinheiro. As festas com aglomerações são um bom exemplo desse individualismo: cada um pensando no seu prazer e esquecendo que, embora tenha uma manifestação leve da doença, vai precisar recorrer a um médico que está exausto de tanto trabalhar para salvar e cuidar das pessoas.
O Brasil é o 7º país mais desigual do mundo: 13,5 milhões de pessoas vivem em extrema pobreza. A boa notícia de 2020 é que reduzimos um pouco o “vírus” do egoísmo, pois mais gente se preocupou com o próximo – e tivemos o ano mais solidário da história do Brasil.
Em março, com o começo da pandemia, o que mais se falava era: precisamos limpar tudo, passar desinfetante no chão, álcool em gel, ficar em casa… mas… como passar desinfetante em um chão de terra? Como comprar álcool em gel se as panelas estão vazias? Uma mãe contou que, quando os filhos sentiam fome, ela dava água para encher a barriga, mas, no verão com a água quente, nem água eles queriam beber. Como ficar nove meses em uma casa com 1 metro quadrado por 1 metro quadrado, morando com mais cinco pessoas?
A partir daí, foi que começamos a campanha Rio Contra Corona, que depois se uniu ao movimento União Rio, uma ação que começou com um grupo de amigos no WhatsApp e tornou-se o maior movimento do Brasil. Conseguimos entregar 309 mil cestas básicas, que resultaram em mais de 49 milhões de pratos de comida para mais de 1 milhão de pessoas que não tinham praticamente nada para comer. Como conseguimos tudo isso? Com a solidariedade de muita gente, não só com a doação de dinheiro, mas assumindo o risco de entregar, com o máximo de segurança, todas as cestas nas casas das famílias.
Se tivesse o “Oscar da Solidariedade”, poderíamos dizer assim: “E o Oscar vai para… cada uma das pessoas que estão passando pela pandemia olhando, pelo menos um pouquinho para o próximo!” E o que eu desejo para 2021? Acabar com o Covid-19, com certeza, mas também acabar com o “vírus” do individualismo e fazer do Brasil um país solidário, onde as pessoas percebam a necessidade do próximo, onde os governantes utilizem o poder e os recursos públicos para dar oportunidade e dignidade para todos! Feliz 2021! Feliz ser solidário!
Andrea Gomides é fundadora do Instituto Ekloos (desde 2007), ONG que tem o olhar voltado para o impacto social — já ajudou a mais de 600 iniciativas no Brasil. É pós-graduada em Gestão Estratégica de Negócios pela FGV, com PMD pelo IESE Business School de Barcelona. Antes de virar “ongueira”, liderou a área de vendas da HP e depois da Microsoft – esteve algumas vezes nos EUA, com Bill Gates, e lidava diariamente com altos executivos da área de tecnologia. Ela dispensou o cargo para montar sua ONG.