Essa coisa de comemorar aniversário devia ter uma regra de ouro: só durar até os 18 anos. Não é a maioridade? Se é a maior, não há outra para ser comemorada. Dizem alguns que a adolescência, atualmente, começa aos 50. Não importa. Cada ano que passa, é um ano a menos de vida; mesmo que você vá aos 100, é um verão a menos e pronto. Eu vou aproveitar o Covid e não vou comemorar os meus 85 anos. Paro por aqui. Não faço mais aniversário nem conto os anos; e não é para esconder idade.
Prefiro comemorar a vida todos os dias, com os amigos, e não esperar uma data para dizer o quanto eu os amo e o quanto preciso deles. Festejemos todos os dias. O celular está aí pra gente falar ou mandar mensagem no WhatsApp. Estão aí também os aplicativos Google, Zoom, Microsoft, Skype para a gente se ver. Claro que, assim que a vacina chegar, vamos nos abraçar e beijar, sem parar, até o lábio inchar.
A maioria está ansiosa para isso, mas têm alguns que estão curtindo o desastre. Tenho, por exemplo, um amigo que fez uma marchinha de carnaval com a letra: “Nós, acomodados, acostumados a não trabalhar, somos contra a vacina que elimina nosso bem-estar”. Puro humor negro! Uma tristeza, mas tem gente que quer continuar hibernando em pleno verão. Eu não.
Assim que tiver a vacina, quero ser o primeiro da fila. Amo a vida e quero viver embora, nos dias de hoje, viver seja um ato de teimosia e coragem. Não dá para aguentar a ranhetice do mimado Trump, moleque malcriado que não vai para casa. Não dá para suportar este Brasil, com um governo disléxico, rancoroso, incoerente e cheio de marra. E com sinais de um relaxamento com a corrupção.
Às vezes, dá vontade de fazer o que dizia o personagem do Jô Soares: “Tira o tubo”. Continuo achando que há mais vírus malignos do que imagina a nossa vã filosofia. Mas tudo passa. Vamos ter mais um pouco de calma e superar os limites da paciência. Já vai raiar a liberdade. Isso é o que vale comemorar.
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, permaneceu 31 anos na Rede Globo, 21 dos quais, como seu principal executivo — chamado também de motor da TV brasileira. Atualmente, é presidente da Rede Vanguarda e do Conselho Gestor da TV Cultura de São Paulo. É um sagitariano que resolveu parar de contar os anos.