Eu me casei bem jovem e fiquei assim por quase duas décadas. Quando o casamento acabou, e me vi solteira, descobri que poderia viver diversas experiências sexuais que não tinha tido oportunidade antes. Pulei aquelas várias aventuras que costumamos viver quando mais jovens, porque estava vivendo uma relação monogâmica tradicional.
Portanto, só aos 39 anos, vivenciei tudo que me faltara e mais um pouco. E quando eu contava as aventuras para minhas amigas e amigos, percebia que, além de se divertirem, eles se surpreendiam demais com minhas descobertas. Eu sempre questionava o porquê de tanta surpresa. Será que era pelo fato de simplesmente ser uma mulher falando de sexo? Ou por ser uma mãe, filha e profissional colocando para fora seus desejos de maneira livre? Ou ainda, quem sabe, por uma mulher delicada, feminina e romântica não ter pudor em dizer que gosta de sexo? Fui somando. E sei que a questão segue pertinente: por que ainda surpreende tanto uma mulher ser livre e falar de sexo abertamente?
Perseguindo esse tabu, decidi fazer no teatro uma peça não sobre amor, sobre romance, nem sobre relacionamentos, embora também passeie por esses assuntos. Quis encenar um texto sobre liberdade e sexo, em que o olhar para o tesão é o da mulher. São várias histórias peculiares, espirituosas, engraçadas — por que não? Imagine uma mulher falando de transas, de diversidade de paus, de gozo, de lambidas e vontades. Simples assim.
Condensei casos meus e de amigas relacionados à nossa liberdade. Na verdade, talvez eu não fale nenhuma grandessíssima novidade, mas, com certeza, tenho a coragem de abrir a boca pra dizer o que muitas mulheres pensam, assim como eu, mas não têm coragem de expressar. Como nós somos um país extremamente machista, o assunto precisa ser muito falado para que, em algum momento, deixe de ser um tema tão revestido de preconceitos. Sou dona do meu sexo assim como os homens sempre foram donos dos seus. E faço com ele o que bem entender. Meu corpo, minhas regras. Minhas regras, meu compasso.
Foto: Leo Aversa
Juliana Martins é atriz e produtora. Vai protagonizar seu primeiro monólogo sobre sexo, “O Prazer é Todo Nosso”, com direção de Bel Kutner e texto de Beto Brown. A estreia está prevista para 2021. Mas nesta quarta (18/11) ela faz uma leitura dentro do festival Tiradentes em Cena, este ano exibido pelo canal do YouTube.