O fim da fome, das doenças, dos conflitos étnicos e ideológicos ainda é sonho distante. Mas muitos dos grandes perrengues da Humanidade poderiam ser solucionados com invenções relativamente simples, e que, certamente, estão ao alcance dos nossos cientistas.
O “fone de ouvido”, por exemplo. Seria um pequeno acessório que, plugado sobre a orelha ou aplicado de forma intra-auricular, proporcionaria audição privada. Se você quisesse ouvir uma música, você ouviria a música — sem ter que se obrigar a compartilhar os decibéis do seu gosto musical com todos à sua volta.
Uma aplicação prática seria a aula de crosfite na quadra (como esta que acontece neste exato instante, a uns 300 metros daqui). A personal instalou um enorme aparato sonoro, no volume máximo, de modo que a música (música??) possa chegar a todos os alunos. Por segurança, calibrou para que as ondas sonoras atinjam o Barra Garden e a praia, a cerca de 500 m de distância. Em consequência, para se fazer ouvir — e ela faz questão de se fazer ouvir! — tem que se esgoelar, alcançando possivelmente o Barrashopping e trecho de mar além da arrebentação.
O “fone de ouvido” possibilitaria que cada aluno ouvisse a “música” não só na altura desejada, como até pudesse escolher uma mais ao seu “gosto” — e a personal faria apenas mímica, poupando as cordas vocais, os clientes do Barrashopping e os surfistas, cardumes de tainhas e mesmo algum desavisado transatlântico que esteja passando por este trecho do oceano defronte à Barra.
Outra inovação relativamente simples seria a inclusão do ensino de Língua Portuguesa nas escolas. Uma aula por semana já estaria de bom tamanho. Os alunos aprenderiam (ou pelo menos tentariam apender) como se escreve no idioma em que fala, usando os recursos da fonologia, morfologia e sintaxe. Parece complicado, não é? Mas né não. É tudo bem mais simples que a regra do impedimento, o agendamento da Net ou a receita de pão de queijo vegano.
Dominando a escrita do Português, seríamos capazes de nos expressar com clareza nos comentários — principalmente naqueles sobre as agressões à língua portuguesa — e que, no afã de protegê-la dos males da “neutralização”, cobrem-na de porrada com concordâncias discordantes, regências regicidas, sintaxes desconexas.
Para isso, teríamos apenas que ressuscitar a figura do “professor de Português” (ou professora — jamais professore!), pessoa que, até meados do século passado, se encarregava desde “Ivo viu a uva” até as (inúteis) orações coordenadas substantivas objetivas diretas.
Uma última invenção assaz útil seria dar significados distintos ao verde e ao vermelho nos sinais de trânsito. O verde poderia continuar a ser “Siga”, mas o vermelho deveria passar a ser, sei lá, “Atenção”, “Cuidado” ou, mesmo, “Pare”. Isso, associado à adoção de práticas como não fechar cruzamento, a utilização de um aplicativo chamada “seta” (que, inclusive, poderia vir de fábrica) e a direção em linha reta, não em ziguezague, tornariam o trânsito mais transitório e menos intransitável.
Três ideias simples às quais algum cientista poderia se dedicar. São poucas as chances de ganhar o Nobel, mas teria minha gratidão eterna. Se precisar de vaquinha para desenvolver os protótipos, estou dentro.