Meteorologia e estatística são ciências que, de tanto errarem, deviam ser promovidas à área de Humanas.
Talvez se pudesse, inclusive, transformar a meteorologia num ramo da probabilística. E, claro, criar uma ciência nova, aproveitando que nenhuma das duas faz jus ao nome.
Etimologicamente, “meteorologia” é o fundamento (“logos”) daquilo que está além (“meta”), suspenso no ar (“aeirô”). Em grego, fica lindo, mas convenhamos que poesia tem hora.
Trata-se mais de uma espécie de horóscopo, com “cumulonimbus” em vez de “primeiro decanato”, “céu parcialmente nublado” fazendo as vezes de “dia auspicioso para novos contatos” e ”zona de convergência intertropical” no lugar de “Mercúrio retrógrado”.
Probabilística tampouco é um nome adequado. O latim “probare” quer dizer “testar, provar”. E nada é mais improvável que a lei das probabilidades funcionar.
Esta semana, tínhamos 80% de probabilidade de pancadas de chuva — com raios e trovoadas! — no decorrer do período. O período decorreu sem que caísse uma gota. Não sei a quantas anda a matemática moderna ou se ela também está passando por um processo de “neutralização”, mas no meu tempo 20 era menor que 80. Pouca coisa, mas era.
Admiro as pessoas que se casam, apostando na probabilidade de ter encontrado o amor da sua vida. A chance de ser essa a pessoa certa é (no momento em digito este parágrafo) de uma em 7.823.023.355. Ou, para quem prefere não entender em percentuais, de 0,000000013%, aproximadamente. Treze não é exatamente um número auspicioso, confere?
Mais do que as pessoas que se casam — ignorando que o tempo é inclemente para com o corpo e particularmente cruel em relação à alma — admiro as que marcam o casamento com seis meses de antecedência, em cerimônia ao ar livre.
Baseiam-se, claro, na probabilidade estatística de se fazer um céu de fotoxope naquele sábado de um futuro distante. São pessoas propensas ao pensamento mágico — certamente de Gêmeos com Lua no terceiro decanato, do tipo que vai à praia em dia de céu parcialmente nublado apostando que justamente naquele ponto de Grumari é onde o céu estará parcialmente sem nuvem nenhuma.
As probabilidades, já dizia alguém (acho que o Millôr) são sempre de 50%. Ou as coisas acontecem ou não acontecem. Tendem a acontecer com mais frequência quando não queremos que aconteçam — o que pode ser comprovado cientificamente de modo bastante simples. Chegue bem cedo ao aeroporto, e seu voo atrasará. Chegue cinco minutos atrasado, e ele terá partido com pontualidade curitibana.
Aliás, Curitiba é o único lugar em que a meteorologia e a probabilística poderão continuar a ser tratadas como ciências exatas e independentes A previsão de chuva e de mudança repentina na temperatura não falha nunca. Dá pra marcar a cerimônia ao ar livre anos antes do evento, em qualquer estação do ano. Depois é só não esquecer de levar o leque, a capa de chuva e o agasalho.