— Oi, doutor, preciso da sua ajuda urgente. Posso ir à clínica hoje? Fiz um procedimento e me arrependi.
— Claro que pode ir, mas você entrou em contato com o profissional que fez o procedimento antes?
Muitas das vezes, é assim o acesso de pacientes: através de mensagens pelo celular. Um caso de preenchimento com ácido hialurônico em uma olheira sobrecorrigida, uma bochecha muito volumizada ou um lábio exagerado. Primeiro de tudo, a ética sempre diz: retorne ao profissional que você procurou primeiro e dê a ele a chance de corrigir caso exista algum erro; isso é o que vai diferenciar o injetor habilitado daquele que não é. Todo procedimento, seja invasivo ou não, é atrelado a um risco de complicações – uns simples; outros, muito sérios.
Eu vejo o ácido hialurônico como a ferramenta mais eficaz em rejuvenescer e deixar alguém mais bonito. E em alguns momentos, são, sim, necessárias quantidades maiores para se volumizar uma área que demanda mais mililitros de produto.
No entanto, para mim, o preenchimento deve ser indicado como uma intervenção definitiva, e não com a possibilidade de ser reversível caso fique ruim. Reverter uma harmonização facial traz riscos, a enzima utilizada tem alta capacidade em produzir alergias graves. Então, preencher, sim, mas sem ter a expectativa de: “Ah, se ficar ruim, eu tiro!”
Dessa forma, o que a gente vê é que a harmonização facial criou um padrão de rostos de mesmas dimensões e com os “Kardashian’s lips”, que não respeitam a identidade de cada pessoa. Aí, entramos no mérito da idiossincrasia de cada um: o seu rosto é largo? Você emagreceu? Uma boca maior vai ficar bonita? Vale aumentar seu queixo, sua mandíbula? O que funciona para Angelina Jolie não funciona para Jeniffer Aniston, mas ambas aparentam ser adeptas de alguns procedimentos.
Vemos uma procura maior no momento por injetáveis (toxina botulínica, ácido hialurônico, bioestimuladores do colágeno), o que pode estar atrelado a esse tempo de isolamento em casa, com as pessoas se observando mais. Mas quando o paciente chega à clínica, querendo um procedimento específico, temos que entrar num consenso.
O senso estético do médico tem que se encontrar com o da pessoa. E já existiu momento em que disse: “Isso não vai ficar bom no seu rosto. Na sua amiga, pode ter ficado ótimo, mas vamos tentar uma outra abordagem da sua queixa.”
Então, que apoiemos o fim da padronização do preenchimento e do exagero. Riscos sempre existem e devem ser levados em conta. Delicadeza, refinamento e naturalidade são os pilares de um paciente feliz, mais bonito e um dermatologista satisfeito com o seu trabalho.
Igor Manhães é médico dermatologista, graduado e pós-graduado pela UFRJ, além de integrante da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Atua na Clínica Les Peaux, no Rio.