Com quase 30 anos dedicados e focados na atividade do luxo, eu, Ferreirinha, arrisco afirmar que, a partir deste severo impacto da pandemia, as marcas não mais deixarão de acreditar e investir nas plataformas de vendas online e terão que estar mais disponíveis e flexíveis para traduzir, em oportunidades, os comportamentos de consumo locais, e não mais, somente, transferir as experiências globais como fatores determinantes. Como nunca, serão cobradas por suas responsabilidades e comprometimentos sociais, bem como a clareza quanto aos necessários conceitos de sustentabilidade e economia circular. As características primordiais e essenciais do luxo serão fortalecidas, como a personalização, o elemento de escassez, o exclusivo, único e raro e, mais do que nunca, as histórias (o legado) e a tradição serão fundamentais no destaque da diferenciação.
Aqui, as minhas reflexões estratégicas:
– as marcas de luxo terão que aprender a urgência de vender online — a maior parte tem dificuldades, receio, resistência e, por isso, usam canais como Farfetch;
– as operações internacionais (globais) terão que permitir inteligência local para ganhar velocidade, e isso será potencializado pelo fato da redução do turismo comprador asiático no mundo – apesar de quase zero da América Latina (a maior parte não permite sequer geração de conteúdo digital local);
– precisarão exercitar, com clareza, suas ações de responsabilidade social e sustentabilidade, o que mudará fortemente a cadeia produtiva e as matérias-primas;
– ganhará o exclusivo, o “made to order”, o customizado, a personalização;
– bens de consumo de luxo serão, sim, “alugado e revendido”, e pelas próprias marcas (essa nova dinâmica será agilizada principalmente em moda vestuário, acessórios, calçados);
– doar será um novo hábito na alta renda, nas empresas de resultados bilionários e serão pressionadas para isso;
– propósito será o novo mantra: no mesmo valor que foram, no passado, a missão e valores (no luxo que está sempre no telhado de vidro, isso é ainda mais forte);
– austeridade será o “new black” (marcas de luxo sempre foram “generosas” em expor gastos);
– colaborativo, que eu estou chamando de “cool-lab”, será essencial para ganhar ritmo e velocidade para motivar o consumo;
– as marcas tentarão descobrir mais oportunidades de enaltecer a “cultura local” — o espírito local será forte nos consumidores;
– alguns setores e atividades terão retomada no que chamo de “imediato para curto prazo”; algumas outras do curto para o médio, do médio para o longo, do longo ao bem longo (carros e barcos); turismo internacional será longo e turismo doméstico, curtíssimo prazo; moda e acessórios, no médio +, com muita mudança de hábitos; gastronomia, no médio; beleza e trato pessoal, no curto prazo.
Carlos Ferreirinha é empreendedor, carioca de São Gonçalo, vivendo em São Paulo há alguns anos. Seu nome é sempre considerado no mercado do luxo. Autor do livro “O paladar não retrocede” (Editora DVS).