Podemos andar sem nos preocupar com segurança nas ruas de Nova York a qualquer hora do dia ou da noite? Podíamos, mas isso foi antes da pandemia. Moro aqui há 20 anos e nunca tive problema, mas, infelizmente em março deste ano, a cidade que nunca dorme “desmaiou” pela primeira vez. Museus, restaurantes, galerias, lojas, tudo fechado, e as ruas vazias, apenas dando passagem para ambulâncias com as sirenes altas avisando do perigo iminente.
Para conter a contaminação da Covid-19, a prefeitura decidiu realocar os moradores de abrigos e cadeias superlotadas para hotéis em toda a cidade. Até hoje, foram mais de 9.500 em 63 hotéis, sendo 32 em Manhattan.
No Upper West Side, o Lucerne Hotel, que fica a duas quadras do Central Park, recebeu, em apenas uma noite, 283 novos hóspedes, num balaio de gato que ia desde dependentes químicos a transgressores da lei. O Park West, o Bellecraire e o Belnord também foram usados como abrigos.
Como os hotéis não estão preparados para esse tipo de hospedagem, e sem monitoramento algum, essas pessoas acabam vagando pelas ruas e, sem o menor pudor, usam drogas, fazem xixi nas calçadas e assaltam moradores e pedestres.
Um dos bairros mais afetados pela violência foi o Upper West Side, uma das áreas mais caras de Manhattan (e do país), onde o preço médio de uma casa é de US$ 1,2 milhão (aproximadamente R$ 6,7 milhões). Já ouvi relatos de crianças sendo observadas por estranhos enquanto brincam no parque, pessoas agredidas na rua com garrafas, vidros de carros quebrados, assaltos e até mesmo a tentativa de sequestro de um cachorro, tudo compartilhado diariamente em grupos de moradores no Facebook.
No Upper East side a situação não é muito melhor. Na famosa Madison Avenue, lojas elegantes, como a Fendi, Chanel ou Hermés, dividem o espaço com dependentes químicos, instalados com seus colchões ao longo das calçadas.
Para se proteger da violência, muitos nova-iorquinos baixaram o aplicativo Citzen, que informa, em tempo real, as ocorrências policiais pela cidade. Nesse fim de semana, por exemplo, foram vários os alertas: de assalto à mão armada e brigas de gangues.
De acordo com as estatísticas da polícia, houve um aumento de 21% no número de homicídios nos primeiros seis meses de 2020. Nossa amada Nova York precisa acordar deste pesadelo de quarentena e descaso. A cidade da Broadway, dos museus e da cultura precisa unir-se e reerguer-se. Na próxima semana, o MoMa já vai reabrir, alguns restaurantes tiveram que aprender a trabalhar com delivery e assim, devagar e juntos, estamos torcendo pela volta da Big Apple.
Ilana Lipsztein (@Ilana_wip) é jornalista, empresária, carioca, mora em Nova York há 20 anos com o marido, o médico Roberto Lipsztein. Este ano lançou o blog IlanaWip (Work In Progress), onde escreve sobre suas experiências como imigrante e mãe. Ela é também integrante do comitê anfitrião do BrazilFoundation.