Prezado Ministro Paulo Guedes, nunca fomos apresentados, meu conhecimento sobre o senhor é parco, dá para o gasto e permite que não lhe tenha grandes apreços. Não faço muita ideia sobre o seu passado. Terá sido um menino feliz, afeito às leituras, estudioso? Nada disso chegou ao meu domínio. Vejo apenas uma pessoa ocupando um cargo importante, autoritária, mal-humorada, visivelmente irritadiça quando questionada. Somos, pelo visto, indivíduos muito diferentes. Eu, apesar de ter vivido um tempo parecido com o seu, sou apenas cinco anos mais novo, ainda não acumulei tantas certezas. Olho o mundo com curiosidade, busco ouvir, ainda preciso aprender muito. Assim, ao contrário de que vejo no senhor, não me incomodo quando discordam de mim. Acredito ser uma boa oportunidade para ampliar meus conhecimentos, mudar, tornar-me talvez mais completo.
Ser presidente de uma entidade como a UBE (União Brasileira de Escritores), tem sido uma tarefa árdua e me ensinado muito. Afastados do convívio social, os produtores de textos sentem muita dificuldade em pagar as contas. Faltam as feiras literárias, os lançamentos de livros, as palestras, aulas, toda parafernália necessária capaz de render numerário a ser somado aos minguados direitos autorais. Obviamente estamos fragilizados, tristes, preocupados. A entidade precisa ser criativa para conseguir ajudar seus filiados.
A gripezinha alardeada pelo seu chefe, Presidente Bolsonaro, imagino a dificuldade em ser comandado por ele, tem levado muita gente boa embora, são raros os dias sem lágrimas. E agora o senhor, com a triste bagagem acumulada na Escola de Chicago, acena com um dos horrores do neoliberalismo, inventa querer taxar os livros em 12%. E nos deixa ainda mais apavorados. Todo escritor quer ser lido.
Sabemos, o ministro melhor do que ninguém, que qualquer aumento provoca diminuição no consumo. Caso tal insensatez seja aprovada, os livros serão ainda menos vendidos, ganharemos miséria ainda menor. Morreremos de fome, além de Covid -19 – será que o seu governo algum dia tentará lidar com a pandemia?
Pense um pouco Senhor Paulo Guedes. Há alguma vantagem em sermos uma nação sem livros, literatura, com um povo alheio à leitura? Ensinaram isso lá no seu curso no exterior? Desde a Constituição de 1940, graças ao escritor Jorge Amado — já leu?, não pagamos impostos sobre o livro. Só consigo pensar em retrocesso. Seria muito pedir para que deixe de lado tal ideia nefasta? Por favor! Os livros já custam caro, a população lê pouco, maravilhoso se pudesse ler mais. Sei, existe um problema.
Caso fôssemos um país com um nível de educação melhor, seu cargo estaria em outras mãos. Mas não se preocupe, certamente acharia um emprego vantajoso. Apegar-se a cargos é tolice. O senhor é bem formado, além disso um patriota, não é mesmo? Desses que cantam hino, se emocionam com a bandeira, admiram desfiles. Assim imagino os amigos do Bolsonaro. De minha parte acho que seria um sonho viver em um país mais culto. O que é um ministério? Pense bem.
Ricardo Ramos Filho é presidente da União Brasileira dos Escritores (UBE). Formado em Matemática pela USP, trabalhou na área de Tecnologia da Informação, mas não teve como fugir ao “chamado” hereditário: é neto do romancista Graciliano Ramos e filho do cronista Ricardo Medeiros Ramos. Começou a carreira literária e de roteirista de cinema aos 38 anos. Dos 20 livros publicados, 18 são de literatura infanto-juvenil, também editados em Portugal e nos Estados Unidos.