Quem chega de avião a Brasília, espanta-se com o azul da cidade vista do alto. A capital do País, conhecida por seu barro vermelho, possui a maior concentração de piscinas residenciais por habitantes do mundo. Nos anos 90, o asfalto ainda não havia chegado à maioria das ruas do Lago Norte — um dos bairros nobres —, mas não existia uma única casa que não tivesse piscina em sua área verde.
Reza a lenda que, além de seu aspecto recreativo, as piscinas ajudam os moradores a combater e amenizar a secura brasiliense, onde a chuva inexiste entre os meses de abril e setembro. Em meados dos anos 80, o governo do Distrito Federal construiu a maior de suas atrações turísticas, fora, obviamente, a arquitetura de Niemeyer. A atração não era para visitantes, mas para seus moradores: uma piscina com ondas no Parque da Cidade, que substituiria a falta de praias.
Não eram bem ondas; eram pequenas marolas que se repetiam a cada cinco minutos e divertiam a população das cidades satélites. Como tudo que é bom para o povão dura pouco, há mais de 20 anos, a piscina foi desativada, mas não existe casa nos Lagos, nas Asas Sul e Norte, ou mesmo nos condomínios dos novos bairros da capital, sem que haja uma piscina – para o deleite dos habitantes do deserto do Planalto Central.
É óbvio que, no palácio presidencial, não poderia ser diferente. No Alvorada, residência oficial do Presidente da República, existe uma de proporções olímpicas, e, como toda piscina que se preze, ela está localizada em área reservada, na parte dos fundos do palácio, em local onde o sol arde durante todo o dia.
O Presidente Bolsonaro, como se sabe, está tratando da Covid-19, contraído mais tarde do que se imaginava, consequência de seus repetidos e condenáveis contatos com aglomerações, e sempre sem máscara. Na piscina do palácio, mesmo que não queira dar um mergulho, o capitão poderia tomar seu banho de sol, de calção ou bermuda, em uma das espreguiçadeiras que cercam suas bordas.
Mas por que ele teima em tomar sol, diariamente, como um condenado, de calça comprida e camisa esporte, nos jardins do palácio, em meio a emas que, sem reconhecer sua autoridade, o ameaçam com algumas bicadas?
Nesta quarta-feira, Bolsonaro realizou o segundo teste do Covid 19, e o vírus continua ativo. Como ele é o único chefe de Governo do Planeta, cujo médico é desconhecido, e que não emite um boletim diário sobre seu estado de saúde, o banho de sol exibicionista, às vistas de fotógrafos e cinegrafistas, deve ser para mostrar que ele continua sobrevivendo à gripezinha, graças a seu passado de atleta e, principalmente, à cloroquina.
Dacio Malta é jornalista e diretor de cinema. Dirigiu “O Dia”, o “Jornal do Brasil” e “O Globo”; e realizou dois documentários: “Noel Rosa — O Poeta da Vila e do Povo” e “O Gato de Havana”, que conta a história do “Gato Tuerto”, o mais emblemático cabaré cubano.