Desde que foi declarada a pandemia, eu e a Lou estamos trancados; só vamos sair depois que chegar a vacina. Tomara que venha logo. Eu estou me virando no ‘home office’; nunca trabalhei tanto em minha vida, mas reservando algum tempo para ler e escrever. A convite do José Roberto Castro Neves, fiz um artigo para o livro “O mundo pós-pandemia”, do qual ele é o curador. O livro já está nas livrarias, com artigos de Paulo Niemeyer, Fernando Gabeira, Fernanda Torres, Bruno Barreto e mais uns 50 especialistas em diversas áreas.
Eu recomendo para quem quiser se deliciar com textos de alta qualidade e curtir um pouco de futurologia. Dizem que Deus, se é que existe, nos privou da previsão do futuro para permitir que tivéssemos o prazer lúdico de ver se as coisas que fazemos vão dar certo ou errado. Com a pandemia, estamos envolvidos em um jogo bruto, cheio de expectativas, mas totalmente imprevisível.
Para mim, o Covid-19, como sempre ocorreu nos eventos que ameaçaram a humanidade, vai atuar como um potente catalisador, acelerando o uso de tecnologias já existentes, mas pouco aproveitadas pelo comodismo habitual do ser humano. Está tudo aí. Seremos forçados, pelas circunstâncias, a usá-las. Vieram para ficar: o trabalho em casa, as vendas online, o uso social de aplicativos, as teleconferências e, mesmo, convenções virtuais.
Parte do ensino vai ser feito à distância e, com a chegada do 5G (a Internet das coisas), a telemedicina vai permitir consultas, diagnósticos e até cirurgias robóticas, feitas de qualquer local para qualquer ponto, em qualquer país do mundo. É preciso, no entanto, uma mudança radical na forma de governar, e que os governantes exerçam o poder que receberam do povo para exatamente beneficiar o povo, e, não, aproveitar-se dele. É preciso acabar com a politicalha e o roubo — é hora de todos nós termos mais respeito com a vida alheia. É só ver que, em plena pandemia, tem gente se lixando para a máscara e para o distanciamento social.
Até na saúde pública, passaram a mão na grana do contribuinte para comprar respiradores superfaturados, quando não, falsos ou inadequados. Foram feitos contratos de construção de hospitais com empresas não idôneas. Tomaram a merenda das crianças e não tiveram piedade em extorquir moribundos e parentes dos mortos.
Estamos contaminados, e sem cura, por vírus piores que o Corona: o egoísmo, a vaidade e a ganância. Não se enganem, pois os predadores da natureza estarão de volta rapidamente. Seria a canalhice a principal característica da humanidade? Não creio.
Há muita gente com amor para dar e que se preocupa com os outros e com o futuro das novas gerações. Pena que existam tantas frutas podres nesta cesta tão linda que é a vida. Precisamos de uma vacina contra essa gente. E, se possível, que pinte um vírus que possa inocular na humanidade a dignidade, a sensibilidade e a responsabilidade. Precisamos de um vírus do bem!
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, começou na TV Tupi de São Paulo, em 1952. Foi diretor artístico da Rádio Bandeirantes, TV Excelsior, TV Rio e Telecentro da Rede Tupi e permaneceu 31 anos na Rede Globo, 21 dos quais, como seu principal executivo. Atualmente, é presidente da Rede Vanguarda e do Conselho Gestor da TV Cultura de São Paulo. Personagem brasileiro de reconhecimento sem conta.