Muitas pessoas podem dizer que, este ano, o Dia dos Namorados em fase de pandemia não cabe. Ao meu ver, essa data nunca foi tão importante; não pela data em si, mas sim pelo significado. Normalmente, na correria do dia a dia, pode-se passar muito tempo até que os casais param e dão a atenção devida para a relação. Dia dos Namorados é isso ou, pelo menos, é o que devia ser. Jantares, presentes e passeios são o de menos — talvez, este seja o primeiro ano em que muitos se dão conta disso. Há mais ou menos três meses, a maioria dos casais está passando pela maior prova das suas vidas, independentemente do grau de distanciamento. Para a maioria, a quarentena traz um convívio familiar muito mais intenso.
Somos criaturas de hábitos, precisamos de escapes, precisamos sublimar nossas loucuras, precisamos criar e produzir, precisamos andar… Ter tudo isso arrancado de nós, da noite para o dia, requer uma estabilidade mental nem sempre presente, afinal, somos seres cíclicos. Altos e baixos fazem parte da nossa natureza.
Além de nos privar da liberdade, nosso bem mais precioso, a ameaça do coronavírus nos violenta com a iminência da perda. Neurologicamente, nosso cérebro não está acostumado ao modo “luta e fuga” por tempo indeterminado. Esse instinto tem o propósito de nos proteger e vem à tona em situações de perigo, que, na sua maioria, não passam de minutos, talvez horas, mas raramente meses.
Isso afeta nosso comportamento, vem de um lugar de ansiedade e altera demais nossas reações às situações. Casais que não brigavam muito passam a implicar um com outro; casais que viviam em pé de guerra encontram, um no outro, um porto seguro e se aproximam novamente. Uma coisa é certa: o convívio a dois pode melhorar ou piorar durante a pandemia, mas jamais será o mesmo.
A essa altura, inevitavelmente, cada um de nós olhou para seu armário cheio de roupas, sapatos e acessórios mil e, ao mesmo tempo que pensou “que saudades!”, pensou também “pra que preciso de tudo isso?”. Sim, em alguns momentos desses 90 dias, olhamos à nossa volta e verdadeiramente enxergamos, talvez pela primeira vez, que o que realmente, aliás, quem realmente importa.
Por isso, vamos aproveitar esse dia para literalmente sair da rotina? Comece com um beijo! Sim, um beijo! Mas um beijo que envolva língua e dure pelo menos dez segundos; lembra?! Garanto que um beijo bem dado tem o poder de chacoalhar qualquer relação. Não precisa de grandes produções, mas usar roupas íntimas especiais, acender umas velas, pegar aquela garrafa de vinho que estavam guardando e sentar para bater um bom papo. Isso vai fazer vocês se lembrarem do motivo de estarem juntos. Feliz Dia dos Namorados!
Tatiana Presser é psicóloga e educadora sexual com 24 anos de carreira. Autora do livro “Vem Transar Comigo” (Rocco), lançado em 2016, é também palestrante e atriz (atuou ao lado do marido, Nizo Neto, na peça “Vem Transar com a Gente”, que ficou em cartaz entre 2013 e 2019, no Rio e SP). Atualmente trabalha com a Fundação do Câncer, com vídeos semanais no site da instituição e tirando dúvidas sobre sexualidade, no programa “Mulher”, na Band.