Paulo Pereira, colaborador da coluna, residente na França há 23 anos, conta como está administrando a quarentena
Confinamento
Além de ser uma situação inédita para todos, trouxe grandes momentos de reflexão, trabalho doméstico (como se fôssemos donas de casa dos anos 1950) e saudades das reuniões com os amigos no fim da tarde, em um café. Esta semana, as regras para sair de casa ficaram mais restritas — temos somente uma hora por dia para ir ao supermercado, farmácia ou fazer um exercício, no máximo, a 100 metros de casa. Policiais controlam nossas autorizações de saída; agora temos que colocar o horário certinho. Todo esse esforço enorme está valendo a pena, haja vista os resultados que vimos na China e que agora começam a aparecer na Itália.
No começo, foi difícil de acreditar que esse vírus poderia chegar à França; mas chegou, e tudo mudou. Você até assiste às reportagens na TV mostrando a realidade; no entanto, chegar a casa e ler a carta afixada à entrada, dizendo para tomar cuidado porque ali existem casos de Covid-19, é assustador. Por isso, o tamanho da nossa responsabilidade em ajudar da melhor forma possível. A França é o terceiro país europeu mais atingido pelo coronavírus depois de Itália e Espanha e regista 25.624 infectados e 1.331 mortes até esta quinta (26/03).
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Gastos
Um dos fatores de preocupação, nesta fase, eram as despesas mensais, porém, como estamos no Primeiro Mundo e o Estado leva a sério as condições de seu povo, o Presidente Macron anunciou uma anistia para todas as contas de luz, água, taxas de impostos e aluguel, incluindo o direito a uma ajuda mensal para os trabalhadores autônomos e artesãos. Para as grandes empresas, foi garantida uma ajuda substancial, sem admitir erros da parte das empresas, como o caso da loja de departamentos Printemps, que ameaçou não pagar aos fornecedores — o ministro da Economia deixou bem claro que isso não pode acontecer, senão a empresa perde o direito à ajuda do governo.
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Solidariedade
Os atos de solidariedade são sempre bem-vindos e enchem a população de esperança, como os exemplos abaixo, cada um com sua devida importância, seja material ou emocional. Os empresários europeus estão preocupados em ajudar, e é claro que as coisas vão ser muito diferentes depois que tudo isso acabar. O mundo terá que ser mais solidário, menos fútil e mais humano – parece que essa é a lição que a crise está nos dando. Vai passar, vai passar, vai passar!
O cantor e compositor Romain Faviès (no vídeo acima) cantou no terraço do seu apartamento, no Quartier Montorgueil, nessa quarta (25/03), para os profissionais da saúde no hospital em Paris.
Com o confinamento, a poluição em Paris, que é uma constante preocupação da prefeitura, nunca esteve em um nível tão baixo: respira-se muito bem na cidade.
O fotógrafo de moda Luc Braquet projeta palavras de amor e esperança nos prédios perto da sua casa.
Bernard Arnault está produzindo mais de 10 mil máscaras para o pessoal dos hospitais em suas fábricas, incluindo as marcas Christian Dior, Louis Vuitton, Hermès e Carrefour, e também converteu uma fábrica de perfumes Dior, nos arredores de Orleans, em produtora de álcool em gel.
O outro grupo, o Kering, solicitou aos ateliers das marcas Saint Laurent, Gucci e Balenciaga a fabricação de três milhões de máscaras para serem doadas aos hospitais.
A marca Moncler doou 10 milhões de euros para a construção de um hospital na Itália.
A qualquer momento, voltamos com mais informações.