A advogada Lucinha Amorim, que chegou de Los Angeles (EUA), no último sábado (21/03), vai processar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Receita Federal, pelo modo como foi tratada no aeroporto Internacional Tom Jobim RIOgaleão e pela negligência com seus pais, Antônio Carlos Amorim, de 90 anos (que foi presidente do Tribunal de Justiça e do Tribunal Regional Eleitoral no Rio), e Teresinha Amorim, de 85 anos, ou seja, ambos no grupo de risco da Covid-19.
“Para sair de Los Angeles, foi um caos. Depois de alguns voos terem sido cancelados, consegui um com escala em Houston (Texas). Eu tinha o agravante de estar com um casal de idosos. Em todos os lugares, tanto no aeroporto em LA, quanto no avião, os cuidados eram redobrados — distribuição de álcool gel e máscaras —, mas, quando cheguei ao Rio, não tinha ninguém para fazer a fiscalização, nem controle de passaporte”, conta ela à coluna.
Nisso, apareceu um funcionário da Anvisa, interessado no conteúdo da bagagem. “Ele perguntou o que tínhamos de remédio e apreenderam as nossas melatoninas (um hormônio produzido naturalmente pelo corpo humano, cuja função básica é a indução ao sono). Soube que, desde agosto, só podemos entrar se tivermos receita. Mesmo assim, pensei que eles tivessem mais o que fazer. Não sou contra o controle, mas em tempos de coronavírus, as prioridades deveriam ser outras. Meu pai imediatamente começou a perguntar os nomes dos agentes da Anvisa e da Receita; eles ficaram bravos, não gostam de se identificar. A Receita Federal também revirou as malas e apreendeu coisas pessoais. Chegamos às 10h, depois de um voo de 13 horas, e saímos de lá às 14h, ou seja, fiquei com meus pais desprotegidos esse tempo todo”.
Lucinha vai pedir ao aeroporto imagens das câmeras de segurança para anexar ao processo e levar um atestado para retirar os medicamentos. “Em determinado momento, obrigaram meu pai a tirar a máscara para identificação, um senhor de 90 anos. Isso é um abuso. Já estou conversando com advogados e vou entrar com uma ação assim que passar a pandemia”, desabafa.
Agentes da Anvisa chegaram ao Galeão, a partir dessa segunda (23/03), para procedimentos de segurança e informações sobre o coronavírus no desembarque do Terminal 2. Para muita gente, assim como Lucinha, tarde demais, já que praticamente todos os países do mundo adotaram o esquema muito antes. Só nesta terça (14/03), segundo o site do aeroporto, são quase 30 voos que vão aterrissar na cidade, sendo quatro internacionais, vindos de Santiago (Chile), Varsóvia (Polônia), Houston (Texas), Londres (Reino Unido) e Atlanta (EUA).