Eram os anos 70, e o personagem criado pelo poder público para combater os péssimos hábitos da população – não apenas com a questão da disposição do lixo, mas também com outros aspectos da educação básica refletindo-se na cidadania e na própria saúde individual e coletiva — tinha um anti-herói. O nome dele era Sujismundo.
Quem tem entre 40 e 55 anos lembra-se desse cidadão, um verdadeiro exemplo de anti-herói que fazia exatamente tudo, ou quase parecido, com aquilo que vemos em pleno século XXI no Rio, uma cidade historicamente conhecida, desde seu nascimento, por ser um lugar bem longe de ser considerado civilizado em termos de limpeza e higiene.
Quando se observa como os moradores da cidade tratam esse assunto na prática, pois, no discurso,h geralmente todos somos politicamente corretos, é de dar um ataque de nervos em qualquer Sujismundo dos anos 70.
Ruas, avenidas, praças, rios, lagoas, baías, praias, encostas, manguezais, tudo é transformado em imensas latas de lixo. Nada escapa da voracidade destruidora do morador assim como de seus visitantes, não menos incivilizados, visto que lixo atrai lixo – a falta de educação de quem recebe coloca todos no mesmo patamar de barbárie ambiental.
Não fosse a ação quase que militarizada da empresa de limpeza urbana (Comlurb), as praias se encontrariam em petição de miséria após fins de semana com sol, ou no extremo da degradação após os festejos de réveillon, quando tudo é permitido e aceito, pois, afinal, estamos numa festa de pura “catarse”!
Mas quem ganha com isso ?
A princípio, ninguém. Todos, sem exceção, temos a perder: moradores, visitantes, poder público, a Natureza (saco de pancada preferido), o Rio e o turismo.
Mas por que continuarmos desse jeito, ano após ano ?
Parece que tanto parcela expressiva dos moradores como a dos visitantes não dão mais importância para o assunto, pois o negócio principal é a festa, seja ela qual for e como for, naquele momento de pura alegria e excitação. Vale tudo!
Não interessa se as ruas e praias estão imundas e fedendo a urina, mesmo que se acorde no meio dos escombros da madrugada. Simplesmente, parte da população e a de demais visitantes se adequaram a essa realidade de todo ano.
Destaco que, após um determinado número de pessoas em um espaço físico limitado, fica humanamente impossível ter controle sobre as consequências da barbárie ambiental que se espalha como se fosse uma epidemia. Não há lixeiras nem banheiros químicos suficientes (quando existem!) 8que deem conta de tamanha demanda desproporcional.
Mas temos a mania nacional de ser os maiores disso e daquilo, como se o pequeno também não fosse belo. E, se tudo correr bem, em 2021 superaremos a marca dos 3 milhões de seres humanos e, quem sabe, em 2050, 30 milhões empilhados, pois o importante é a festa e os números cada vez maiores!
Não há dúvida de que, desse jeito, o ano novo nada mais é do que o ano velho recauchutado, com seus mesmíssimos problemas de sempre e sem perspectiva de melhora efetiva, pois sujo ou limpo, está se faturando (lotação esgotada na rede hoteleira).
Por outro lado, resta o futuro, as próximas gerações e a pressão crescente que as mais novas gerações têm exercido sobre aquelas que atualmente mandam e desmandam no Planeta.
Diante desse contexto, gostaria de sugerir, mais uma vez, às autoridades de plantão e meios de comunicação a elaboração de campanhas educativas do tipo Sujismundo, adaptadas aos dias atuais.
Sei que apenas essa ação não será suficiente para mudar radicalmente nossa forma ecocida de ser com o ambiente e com nossa cidade. Contudo, é mais um passo nessa guerra perdida, que insistimos em travar com quem nos sustenta.
Volta, Sujismundo! Precisamos de seus desserviços mais uma vez.