Se eu tivesse que escolher uma única palavra para me definir, seria superação. Logo na infância, precisei aprender, a duras penas, a lidar com o rótulo de ‘a menina que não tem pai’, pois eu não o conhecia, e não tinha o nome dele na minha certidão. Tive que contornar desejos simples de criança, como o de comer um doce, por falta de dinheiro. Tive que engolir o choro e tentar entender a criação rígida e tantas vezes cruel de uma avó que fazia mais do que podia pela sua família. Na adolescência, a mesma pobreza me rendeu risos e deboches de tantos colegas que não entendiam por que eu estava sempre maltrapilha.
Uma mãe sempre ausente, que aparecia só quando queria, e eu me obrigava a mudar o caminho entre a casa e a escola, para não passar vergonha na frente dos amigos. Um parente mau-caráter me fez sentir vergonha do meu corpo em desenvolvimento ao abusar de mim nos fundos do quintal. Esses caminhos tortuosos poderiam ter me levado a um destino desregrado, sem lei e sem moral. Mas, dentro de mim, sempre houve a força e a vontade de superar e mudar a minha realidade. E foi para sair dessa vida que eu me casei pela primeira vez, apaixonada por um homem bem mais velho, que valorizava minha inteligência e todas as minhas qualidades ofuscadas pela falta de oportunidade.
Foi esse homem que me mostrou que eu podia amar e ser amada. Foi esse homem que me deu meu primeiro filho. Foi esse homem que me ajudou a me aproximar do meu pai e ser reconhecida por ele. Foi esse homem que me incentivou a cursar uma faculdade. Mas também foi esse homem que, literalmente, se apossou da minha vida e me fez acreditar que essa era a forma correta de se relacionar. Mas também foi esse homem que me agrediu de todas as maneiras e acabou com meu amor próprio. Mas também foi esse homem que me levou ao fundo do poço para descobrir que lá também havia a catapulta da superação.
Eu venci uma família desestruturada. Eu venci a opressão social. Eu venci a extrema pobreza. Eu venci o abuso sexual. Eu venci a violência doméstica. Eu me tornei Monique Elias, advogada com seis especializações, bem-sucedida na vida profissional e bem-resolvida na vida pessoal. Foi nesse contexto que conheci meu atual marido e, depois de uma linda amizade, nos apaixonamos. Livres e independentes, começamos a namorar. Construímos um relacionamento sólido e uma família: ele, eu, meu filho mais velho — a quem sempre tratou como filho — e nossos gêmeos. Estávamos felizes. Mas sabe o que nunca me abandonou? O preconceito. O machismo. O julgamento, principalmente de mulheres, que nunca admitiram que o amor possa acontecer entre pessoas de idade e classes sociais diferentes.
Tudo isso fomentado por certa mídia sensacionalista que tinha como único objetivo vender e se promover à custa de mentiras sobre mim, sobre o meu relacionamento, causando sofrimento a todos nós, levando meu filho a sofrer bullying na escola, levando a mim mesma à depressão e à síndrome do pânico. Eu superei. Eu venci. Eu me tornei influenciadora digital para inspirar outras mulheres que caminham pela mesma escuridão por onde andei. Eu estou aqui, não para me vitimizar, mas para dizer a você que nunca abandone a sua verdade. Que os justos não têm o que temer. Que, onde há amor, há vitória. Que eu sempre existi — eu e a superação. E que andaremos juntas em todas as estradas, seja qual for a direção. Encontre a sua luz e nunca a perca de vista. Você também pode vencer. Você também vai vencer.”
Monique Elias, 38 anos, autêntica, falante, corajosa, é advogada, à frente do canal No Pique da Nique, no Youtube. Mãe de João, 17 anos, e dos gêmeos Francisco e Isabela, 5 anos. Casada com Itamar Serpa, fundador da Embelleze, empresa que exporta para muitos países, com mais de 10 mil funcionários diretos e indiretos. Monique vai lançar seu primeiro livro, “Eu já existia”, em setembro, na Bienal do Livro do Rio, pela editora Astral Cultural.