Sou da geração que assistiu, nas telas dos anos 80, a previsões apocalípticas do futuro. O cardápio variava: terremotos avassaladores, invasões alienígenas, máquinas vindas do futuro, armamento biológico, mutações genéticas, e por aí seguia… Eu não perdia nenhum dos filmes!
No final dos anos 90, dando aula de Gerenciamento de Ecossistemas, lembro-me bem de uma matéria que utilizei para alertar os alunos e alunas sobre o monstro que estávamos alimentando. A matéria era da revista “Carta Capital”, intitulada “Os cavaleiros do Apocalipse”, onde, em resumo, estudos do Pentágono alertavam para os candidatos à Presidência dos EUA que terrorismo era fichinha diante do que estava por vir em termos de alterações climáticas e suas consequências na geopolítica mundial. A busca por água, alimentos, recursos naturais estratégicos iria impulsionar migrações sem precedentes, bem como conflitos armados entre nações, numa escala jamais vista, em que o petróleo deixaria de ser o fator-chave.
Não fui levado a sério, confundido pela maioria da minha plateia por um daqueles alucinados que repetiam: “o fim está próximo”! O tempo passou e, no último mês, li duas matérias que confirmaram, mais uma vez, que o tal futuro chegou.
Primeiro, foram os registros de temperatura na Europa, jamais verificados. Simplesmente, diversos países europeus derreteram diante de temperaturas nunca vistas no continente, ultrapassando o tórrido verão de 2016, considerado, até então, o mais quente de todos os tempos. Associada a essa situação, na Groelândia, a capa de gelo derretera como nunca havia ocorrido.
Em seguida, a informação da autorização do governo japonês no que diz respeito ao desenvolvimento de embriões com “shakes” genéticos entre humanos e demais espécies animais, fato que me remeteu imediatamente ao antológico filme “Blade Runner”, que, por acaso, se passava num hipotético “futuro”, também em 2019. O que irá sair dessa autorização, além dos avanços na medicina, fica por conta da imaginação do lado sombrio da força de cada um.
Enquanto os planos de colonizar Marte avançam de forma concreta, unindo esforços públicos e privados, levando para um novo passo na tecnologia envolvida em mais essa expansão da humanidade, por aqui, as coisas continuam andando para trás em termos de gestão planetária.
Todas as semanas, são sinais, alertas, estudos e fatos de mudanças substanciais por todo o Planeta, onde a turma que se beneficia, de alguma forma, das potenciais causas se agarra à teoria da conspiração planetária.
No Brasil e no Rio, parece que boa parte das autoridades não toma conhecimento do que anda acontecendo e continua pensando e agindo a gestão ambiental como se continuássemos no Brasil colônia, onde o recurso natural era teoricamente inesgotável e propício ao seu uso predatório.
Falando em uso predatório, a cidade carioca, aquela que é a porta de entrada internacional, cidade maravilhosa etc. e tal, despenca no ranking do saneamento básico nacional 12 posições segundo o Instituto Trata Brasil, retrato fiel do que vem sendo sistematicamente denunciado pelo projeto “OLHOVERDE — Instituto Manguezais”, mas que, por motivos óbvios, continua ladeira abaixo.
Enquanto isso, temos a insistência do senhor Presidente da República em intensificar o turismo na baía de Ilha Grande, em especial no município de Angra dos Reis, tendo como principal ação, a alteração da Estação Ecológica de Tamoios. Nada contra a intensificação do uso ecoturístico da região, no entanto há de se notar a histórica falta da infraestrutura básica da região para qualquer tipo de iniciativa como essa.
Antes do incremento, cumpre garantir a proteção, a afetiva gestão do principal produto, isto é, o ambiente. Para tanto, já foi sugerido ao senhor Presidente, publicamente, que estimule o investimento em obras de saneamento universalizado, o mesmo que falta na cidade do Rio, bem como a ordenação do uso do solo associado com políticas de habitação. Ultrapassadas essas etapas, aí, sim, é que se poderia pensar em incremento do turismo; antes, repetiríamos a tragédia social e ambiental que hoje colhemos no sistema lagunar de Jacarepaguá.
Enfim, o futuro parece ter chegado, com tudo que a falta de visão humana poderia ter quando o assunto é ambiente, tema que exige dos tomadores de opinião locais e globais, um horizonte bem maior do que apenas a miopia política permite. Enquanto isso, a sociedade continua adormecida, vendo o navio adernar, achando que, no final, tudo acaba bem. Resta saber para quem!