Era como dois eventos no 29º Prêmio da Música Brasileira, nessa quarta-feira (15/08), no Theatro Municipal – os bastidores, mais calmos do que em anos anteriores, e, no palco, espetáculo coordenado e roteirizado para todo mundo assistir, inclusive de casa, com transmissão ao vivo. A noite era de homenagem a Luiz Melodia, morto ano passado. Com meia hora de atraso, o show começou com um monólogo de Leandra Leal, que pediu para participar da homenagem. “Quando um artista encoraja sua vida, o mínimo que você deve fazer é homenageá-lo. Luiz partiu outro dia, e faz tão pouco tempo que não nos acostumamos com sua ausência”, disse ela. Logo depois, chegaram as apresentadoras oficiais, Camila Pitanga e Débora Bloch, lindas e bem montadas, com o texto escrito por Zélia Duncan na ponta da língua.
Algumas ausências foram sentidas, como Gal Costa – considerada por Melodia sua “madrinha musical”, mas José Maurício Machline conseguiu reunir cantores dos mais diversos estilos. “Gal tem uma importância vital na história do Melodia, mas infelizmente ela não pôde vir, mesmo sendo indicada”, disse Zé. Uma das primeiras apresentações foi de Alcione, que ganhou o prêmio de melhor intérprete de canção popular, e cantou “Estácio, holly Estácio”, ao lado do violonista Renato Piau, parceiro musical de Melodia. Chico Buarque, que não apareceu, foi o maior vencedor da noite, com os prêmios de melhor canção, “Tua Cantiga”, e melhor disco de MPB, com “Caravanas” – seu neto, Chico Brown, foi quem subiu ao palco para receber as homenagens. Mas o que não apareceu na TV deu o tom da noite: alguns protestos de artistas, seja na representatividade negra ou política. No fim da música “Ébano”, primeira da noite, por Fabiana Cozza, ela mandou um “Meu nome é Ébano” – a cantora teve seu nome envolvido na polêmica do musical em homenagem a dona Ivone Lara; ela foi escolhida, mas renunciou depois de protestos por seu tom de pele ser mais claro. Além disso, foram 30 negros com mais de 60 anos comemorando Melodia – além de Alcione, Zezé Motta, Áurea Martins, Sandra de Sá….
Os integrantes do Samba do Trabalhador, Leci Brandão e Criolo – melhor cantora e melhor cantor na categoria samba – fizeram a letra “L” com os dedos, e parte do público começou a gritar “Lula Livre”, com a plateia se dividindo entre aplausos e vaias. Maria Gadú e a namorada, Lua Leça, foram vestidas de vermelho e com pintura indígena, como protesto a favor da causa. Um dos momentos mais aguardados foi rápido demais – a apresentação inédita de Caetano, Moreno, Zeca e Tom ao lado de Maria Bethânia, cantando “Pérola Negra”. Aplausos de pé. Nos bastidores, uma das cenas mais pitorescas foi o encontro de Baby do Brasil e Zeca Pagodinho. A cantora perguntou ao sambista, que estava com um copo de cerveja na mão, se ele tem frequentado a igreja. Respondeu que sim, entre um gole e outro, meio que fugindo do assunto. Já alguns fotógrafos que circulavam pelos corredores, disseram que estava tudo tranquilo por ali, aliás, relax mesmo, já que sentiram uma marolinha saindo de uma das portas. O número final surpreendeu, com o trio Liniker, IZA e Lazzo em “Pérola negra” e um grupo grande, todos descalços, dançando em volta. A noite não acabou por ali, e vários artistas foram para a festa, na Casa Camolese, no Jardim Botânico.