Essa é uma pergunta que, quando formulada, faz com que enganosamente nos respondamos baseados em impressões muitas vezes projetadas, ou fruto de julgamentos superficiais de outros sobre nós. Influenciados, acatamos essas opiniões sem questionar, satisfeitos ou não, e atuando inconscientemente de forma a confirmá-las.
Vejo a personalidade sendo formada pelos acontecimentos experienciados, pelos conceitos emitidos sobre nós durante a infância (por amigos, professores, familiares e, principalmente, pais), sendo absorvidos como verdades absolutas. Conceitos esses, muitas vezes contraditórios, desabonadores ou apenas frutos de expectativas sobre nossa atuação; outros ainda, mal interpretados pela cabecinha infantil. Em determinado momento, olhamos para essa colcha de retalhos e vemos, envergonhados, um reflexo desfigurado: “Sou assim…”
A necessidade de ser aceito e amado nos obriga a um artifício para esconder do mundo as feições disformes. Criamos uma ou várias máscaras, imitações de modelos idealizados, que nos habilitem ao convívio social, obtendo uma relativa aceitação. A necessidade e o esforço em construir as defesas para esconder as características que introjetamos, e das quais nos culpamos, geram um nível de tensão e culpa insuportáveis.
O medo de sermos descobertos nessa mentira profunda produz a fuga do contato consigo mesmo, numa tentativa de esquecer e escapar da visão assustadora; voltamos nossa atenção apenas para as ofertas do mundo exterior, ao qual nos apresentamos com o “falso eu”, e nos esquecemos de nós mesmos. E vamos limitando-nos… Esse pseudoesquecimento, ou narcotização pelos sentidos, é o que chamamos de sono profundo.
“Estar desperto é estar consciente de quem somos atrás das máscaras e ir mais além – é a descoberta do sujeito que olhou a colcha de retalhos tecida pela ótica de terceiros, achando que a imagem, disforme e mal desenhada, era a sua.
Atrás da falsa ideia e das máscaras, no lado do avesso, permanece desconhecido o impecável modelo original.”