O Pajé Sapaim, da tribo Kamayurá, está mais uma vez no Rio, onde veio dar consultas. Ele é considerado, atualmente, o maior pajé do país. Depois que ele morrer, só vão existir pajés que foram ensinados na pajelança. Segundo os índios, ele é o último que fala com mamaés (espíritos).
A primeira vez que Sapaim saiu da aldeia foi para curar o cientista Augusto Ruschi, que estava doente, com veneno de sapo. Atualmente, o Pajé já viajou muito pelo mundo – conhece o Japão, Nova York, Washington, a Europa quase toda, Marrocos e Noruega – e atendeu gente conhecida como o rei Harald V, da Noruega, o cirurgião plástico Ivo Pitanguy, Xuxa, Gisele Bündchen e Leonardo di Caprio.
Foi preparado por Mamaé, que o ensinou a reconhecer todas as plantas e suas propriedades, e os peixes, quando tinha 10 anos.
Sapaim leva uma hora para atender cada cliente. Ele vê onde a pessoa está doente, tira uma espécie de massa gosmenta na mão, sopra e a doença desaparece. Se for preciso a pessoa se receitar com alguma erva, ela vai saber no dia seguinte: Sapaim tem que sonhar para ter a resposta.
Das doenças do homem branco, ele diz que vê muita coisa causada por olho grande, inveja, preocupação e nervoso. “Se você ficar muito carregado, pesado, triste, está sentindo a energia da pessoa que mandou, e sua energia fica presa, amarrada. Como sou pajé, vou tirando, limpando essa energia, para a pessoa ficar bem”. Para depressão, ele recomenda: “Depressão é a pessoa ficar sozinha. No Rio, se sair de casa já tá com outra pessoa. O que salva a pessoa é ir pra rua, a cura é sair de casa”.
O celular para contatos com o Pajé, no Rio, é o (21) 99794-9340.
Índio não gosta de dizer “não”, é verdade?
“Quando o Pajé não quer uma coisa, a coisa vira amanhã. No outro dia falam outra vez, o Pajé diz ‘amanhã’; no terceiro dia, a pessoa fala ‘é hoje’, o Pajé responde ‘já falei que é amanhã?”.
Em que a vida dos índios no Xingu poderia servir de exemplo para o homem branco?
“Eu acostumei com a cidade sozinho, mas os índios, que não conhecem a cidade, eles viram muito movimento, ruim e bom. Quem vem aqui a primeira vez, o índio, acha que a cidade de branco não é boa. Lá na aldeia, ficamos tranquilos, acordamos alegres, comemos, a gente não se preocupa. A cultura do índio é muito diferente. A cultura branca é ‘braba’. Quando o homem branco diz: ‘Vou te ligar’, o Pajé sabe que nunca mais vai ver essa pessoa”.
O pajé pode prever o futuro de quem ele está tratando?
“Sim, quando eu consulto a pessoa que está com alguma doença, eu converso com ela, e depois disso eu durmo e o “mamaé” me conta no sonho se a pessoa vai ou não morrer agora, ou se ela vai morrer devagar e se tem a planta que vai tirar a doença dela.
Para que servem as garrafadas que o senhor faz?
“A pessoa precisa do banho ou do chá se ela tem muita tristeza, preocupação ou nervosismo. Eu posso preparar o banho ou o chá pra vir a calma, não piorar, pra curar muita coisa pelo banho”.
E quando a pessoa tem medos?
“Pode curar o medo. Ninguém nasce com o medo, a gente recebe. Nós não somos nós mesmos quando estamos com medo. Medo não existe, medo é uma coisa que aprendemos”.
O senhor já sonhou ou teve visões com o futuro do planeta Terra?
“Sim, mamaé ta sempre me falando, ele fala a verdade. Nosso mundo todo não vai acabar, nosso mundo vai continuar sempre, vai ficar bem”.
Sabemos que o senhor gosta muito de usar óculos escuros (rs). O que mais o senhor gosta do mundo dos brancos? Gosta de futebol, de algum tipo de comida ou bebida?
“Como eu tô acostumado com a cidade, que vou de lá pra cá, eu tô habituado a ficar de roupa, como na cidade. Boné, óculos, quando quero, eu uso. Agora não tô usando boné nem óculos, tô usando cocar. Então, se eu andar na rua, no carro ou no mar, sem cocar, o branco vai dizer: ele não é ele, é branco, porque ele não usa cocar, usa coisas de branco. Pajé não é branco, Pajé é índio, índio puro. Pajé precisa de celular porque as pessoas ligam pra marcar consulta. Pajé pode usar perfume, e kunhã (mulher) pode cheirar pajé, que ele gosta de ficar cheiroso. Gosta de assistir televisão, assisto jornal, mas não gosto de novela. A caixa da televisão rouba a pessoa dos outros. Pode estar com 20 pessoas, mas está sozinho.”
Qual a mensagem pros cariocas?
“Ter mais amor, união, respeito, carinho entre as pessoas, mesmo se têm problema. Quando estiver com o outro, aproveitar o outro. As mulheres estão muito magras, quem gosta de roupa é cabide. Homem gosta de pegar”.