Correspondente no Brasil do jornal Dagens Nyheter, o mais importante da Escandinávia, o jornalista Henrik Jönsson lança em Brasília, quinta-feira (16/04), um livro resultado de uma pesquisa de dois anos sobre a cidade, entrevistando pessoas de diversas classes sociais, incluindo políticos, juízes, prostitutas e empregadas domésticas.
Com 25 capítulos, “Fantasy Island – Brave New Heart of Brazil (Key Publishing House)” tem o depoimento da prostituta de luxo Luára, que trabalha no Alpha Pub, por onde passam muitos lobistas quando estão em Brasília. A moça, que cobrava entre R$ 500 e R$ 1.000 em 2010, época da entrevista, revelou detalhes picantes sobre seu ofício. “Às vezes, os parlamentares se apaixonam, se sentem acolhidos, e querem voltar. Eu tento manter a minha distância. É uma questão de ser profissional. Eu vendo o meu corpo, não a minha alma”, contou. A garota de programa ainda deu palpites sobre a divulgação do caso entre a jornalista Mônica Veloso e o presidente do Senado Renan Calheiros. “O que ela fez foi errado. Ela explorou a situação”, comentou.
Ciceroneado por uma empregada doméstica morada da cidade satélite de São Sebastião, Henrik se revela assustado com o mundo de drogas e violência que testemunhou a poucos quilômetros do Palácio do Planalto. “Nunca tinha visto uma coisa igual. Era bem pior do que as favelas do Rio. A gangue andava com pistolas nas mãos e a polícia passava sem fazer nada. Depois, tentaram estuprar a empregada doméstica e a filha dela porque a menina não queria sair com o líder do grupo”, lembra.
Mas o livro não aborda só assuntos pesados. O autor fala, também, sobre misticismo e sobre a cidade sueca que inspirou Lucio Costa na construção da capital. “O protótipo é o Vällingby, um subúrbio sueco fora de Estocolmo, que foi criado pelo modernista Sven Markelius, conhecido entre outras coisas por ter desenhado um dos salões na sede da ONU, em Nova York. Vällingby foi inaugurado em 1954 e foi visitado por Lucio Costa antes de ele projetar o Plano Piloto de Brasília”, garante Henrik Jönsson.
O autor vive há 13 anos no Brasil, é casado com uma historiadora brasileira e é apaixonado pelo país. Ano passado, publicou o livro “Jogo Bonito – Pelé, Neymar and Brazil’s Beautiful Game”, que teve ótimas críticas da imprensa estrangeira. O The Guardian disse que a obra ”se distingue pela sua originalidade” e o The Times escreveu que ”o livro é uma alegria, dançando entre o melhor e o pior do Brasil”.