O biólogo Mário Moscatelli fez, nesta segunda-feira (10/11), o voo mensal de helicóptero que faz parte de um projeto seu de 17 anos de monitoramento das águas da Baixada de Jacarepaguá à Baía de Guanabara, com apoio da Câmara Comunitária da Barra.
E o que ele viu não foi nada animador: houve uma antecipação do fenômeno que só costuma acontecer no mar da Barra no verão. Com a maior intensidade luminosa e aquecimento das águas nesta primavera atípica, começaram a proliferar no esgoto, que é despejado 24 horas nas lagoas da Barra, as cianobactérias, caracterizadas por sua coloração verde. Com elas, surgem as microcistinas, toxinas que fazem mal ao fígado e podem até causar câncer. Isso sem falar nos vírus, coliformes e protozoários das mais diversas espécies que já estão tomando a praia da Barra e dão origem a doenças de pele, entre outras.
“Há sete anos fiz um denúncia semelhante e o Carlos Minc, que era secretário de Meio Ambiente, chegou a interditar um trecho da Barra; depois, nunca mais ninguém falou nisso”, conta Moscatelli. Para o biólogo, o trecho do Quebra-Mar até o Pepê deveria ser considerado impróprio o ano inteiro, mas fica especialmente insalubre nas marés baixas. “Aconselho o banhista da Barra a procurar se informar se a maré está baixa e se o vento está batendo de Leste; nesse caso, deve-se evitar do Quebra-Mar ao Pepê; se o vento estiver na direção Sul, evitar a extensão na direção do Costa Brava”, explica.
No seu sobrevoo desta segunda, Moscatelli também observou grandes trechos coalhados de peixes mortos, no Canal de Marapendi e no espelho d’água da Baía de Guanabara entre Magé e São Gonçalo, passando pela Ilha de Paquetá.
‘Alguma coisa está acontecendo, mas a sociedade não reage, parece o doente em estágio de negação. Fica o dito pelo não dito e as cianobactérias iniciam sua bacanal reprodutiva em mais um verão!”, diz.