A culpa chegaria a ser engraçada se não gerasse algum tipo de paralisia ou inércia. Quando estamos nos sentindo culpados, ficamos carentes de tudo: perdão, aprovação, justificativas e explicações. É com esse arsenal de sentimentos de vítima que tentamos superar todo tipo de culpa, que é, na verdade, uma preparação para a dor que pode chegar.
Claro, foi assim que nos ensinaram: boa criança ganha recompensa e criança má ganha castigo. Parece que aquele incômodo sentimento não nos sai da cabeça; no fundo, sempre sabemos quando geramos algum desequilíbrio no vizinho e, consequentemente, no universo.
Uma forma de amenizar nosso entendimento arcaico é a "penitência" — nem que seja só interna. Acreditamos que já estamos sofrendo porque estamos sentindo culpa e, assim, algum ser misericordioso vai nos aliviar: acabamos de revogar a lei de Causa e Efeito. Culpa é só um mecanismo egocêntrico de proteção dentro da nossa lógica pessoal, com o entendimento de que vivemos num mundo perfeito, governado por um sistema de equilíbrio e harmonia que é revelado pela integração do corpo com a alma.
Vamos começar a perceber que a principal escolha da nossa vida é assumir a responsabilidade por todos os acontecimentos/efeitos que vivemos. A responsabilidade, contrariamente à culpa, é libertadora, desmobiliza-nos instantaneamente — é o primeiro passo de qualquer processo quando queremos assumir o controle do futuro. Toda vez que nos sentirmos imobilizados, deveremos abraçar a responsabilidade.
Por Ary Alonso, espiritualista