É muito fácil nos darmos bem com amigos socialmente, momentos em que usamos as mais variadas máscaras para escondermos o que não aceitamos em nosso interior. Mas, em um relacionamento íntimo, essas máscaras inevitavelmente cairão em vários momentos, e é aí que poderemos aprender uma das grandes chaves que ajudam a encontrar a verdadeira felicidade: aceitação!
Dentro de alguns dias, Billy e eu faremos 50 anos de casados… Meio século, sem máscaras! E muito, muito felizes!
E como isso foi possível? Um casamento em que correram até apostas entre nossos amigos de que duraria no máximo três meses… (rs). Casamos apenas no civil, pois acho que nem nós acreditávamos no que estávamos fazendo! E, através de nós, vieram quatro maravilhosos seres ao mundo!
O que posso dizer, com a experiência desses cinquenta anos, para os mais jovens é que a crise é um momento maravilhoso para aprender algo novo, para formar ou estreitar laços que nos ajudam a atravessar juntos diferentes etapas da estrada – às vezes cheia de pedras pontiagudas – em direção ao objetivo principal de nossa vinda ao planeta e chegar ao AMOR.
Mas, quando existe a ‘prisão/casamento’ é inevitável o padrão de cobranças mútuas geradoras de culpa, e, consequentemente, de raiva. Todo culpado odeia o acusador e todo rejeitado, odeia o rejeitador!
O respeito pela individualidade do outro é fundamental em qualquer tipo de relação.Assim como é necessário que o companheiro/companheira esteja caminhando ao lado porque ‘deseja’ a companhia, e não por que está sendo obrigado por alguma dependência, ou por um compromisso. Considero esse item o embasamento para qualquer tipo de relacionamento.
Claro que existirão momentos em que um dos parceiros estará desejando outra coisa, ou mesmo outra pessoa, o que necessariamente não significa uma ameaça ao amor.
Não vejo a traição como uma satisfação física passageira (fruto de hormônios exalados inconscientemente), algo que pode acontecer em uma relação de longo curso; mas sim a mentira do sentimento, a falta de amizade e respeito, o distanciamento da alma e a ausência da cumplicidade entre parceiros dispostos a aprender, a viver lado a lado, a compartilhar e ultrapassar todos os tipos de crises que acontecem em um relacionamento íntimo de qualquer ordem.
Quando falo em felicidade não quero dizer ausência de momentos difíceis; ao contrário. Tivemos muitos, alguns desesperadores, em outros a dor do orgulho ferido através das mais variadas rejeições, e, alguns, até de falta do desejo perdido em algum ressentimento, parecendo que jamais voltaria…
Mas para mim, mulher é ação, e homem, a reação.
Em um dado momento em que tudo parecia perdido em nosso relacionamento, decidi num último esforço usar o meu marido (que naquele momento me parecia um insuportável algoz, sendo eu a sua vítima), como um espelho: tudo o que me desagradava nele, buscava o equivalente em mim mesma.
E encontrei. Tudo. E nos descobri iguais.
Foi uma enorme surpresa!
A partir desse momento saí da acusação, do julgamento, e fui entrando em um espaço de compreensão.
Compreensão de mim. Dele…
E por que não aceitar o outro como ele é? Só rejeitamos o que não compreendemos.
Esse encontro acontece através da ‘aceitação’ de si mesmo e das diferenças do outro (o semelhante), apesar de todas as arestas ainda não lapidadas, ou lições a serem aprendidas ao longo da existência.
O problema é que há muitas pessoas que confundem “aceitação” com “conformismo”. Aceitação é acolhimento, receptividade, concordância, aprovação. É uma ação consciente que sai da força do próprio ego e que ocorre através da liberdade de escolha. A base sólida para uma relação sólida partindo da aceitação é a cumplicidade, ou seja, aceitação das fragilidades mútuas e apoio sem cobranças…! Conformismo é adequar, resignar, acomodar, amoldar ou uma omissão que implica renúncia a qualquer responsabilidade por seu próprio comportamento. É um ato de escravo que surge da debilidade do ego. É o desejo de que alguém faça por você.
Ao aceitá-lo, aprendi a aceitar a mim mesma… E me gostei. E nos gostei. Foi o início do amor.
Nesse ponto começamos a praticar a verdadeira ‘alquimia’, que não é transformar chumbo em ouro, ou carvão em diamante, mas sim o mental em espiritual.
É atravessar o túnel, nebuloso e escuro no início, para encontrar a luz radiante no final.
É saltar sem medo de cair no abismo profundo que existe entre a ‘paixão’, uma emoção que é fruto apenas da química orgânica, em ‘sentimento’ que tem sua origem na alma.
É chegar finalmente ao fim da estrada do tempo, alcançando o eterno.
É sentir AMOR no corpo e na alma, que é a união de humanos em UM único ser.
E agora, já próximos do momento de outro grande salto, percebemos que esse sentimento transborda, e que sem perder a individualidade, vamos nos tornando UM com todos…
Ah, valeu a pena! Faríamos tudo de novo!!!