Madeleine Saade é filha de libaneses, mas nasceu em Aruba, pedaço holandês do Caribe, e voltou com os pais para o Líbano ainda adolescente para uma educação “mais europeia”. Considerada a melhor chef árabe do Rio, ela chegou à cidade carioca aos 19 anos, em 1964, casada com Humberto Saade, primo-irmão que conheceu numa viagem ao Brasil, dois anos antes.
Madeleine tem uma irmã e um cunhado (Baby e Lawrence), além de muitos amigos, que vivem no norte do Líbano, de onde voltou recentemente, aproveitando uma abertura do aeroporto, antes dos ataques de Israel ao Hezbollah. “Só faço rezar pra que tudo isso acabe e que encontrem uma alternativa para a paz, porque é um desespero pensar não só na minha família, como também em todo o povo libanês (família). O Líbano é um país de pessoas fortes, mas não há como lutar contra bombas. Tudo o que construímos, toda nossa história está se apagando. Minha família, como todo libanês, imigrou, trabalhou e venceu para um dia voltar para sua terra natal e investir. Só que vieram as guerras levando tudo, tanto material quanto sentimental. Como descrever os meus sentimentos em palavras?”, diz ela.
A maior comunidade de brasileiros no Oriente Médio atualmente está no Líbano, com 21 mil pessoas, enquanto, no Brasil, são 3,2 milhões de libaneses ou descendentes, segundo uma pesquisa do Ibope em 2020.
Como disse a psiquiatra Maria Francisca Mauro, em entrevista à coluna, “ainda que fisicamente longe das zonas de conflito, as pessoas são afetadas pela guerra; estamos tomados por uma sensação interna, muitas vezes, inexplicável, como uma tristeza silenciosa. Os efeitos dessas situações extremas na mente não são visíveis, mas podem desencadear ansiedade, depressão, distúrbios comportamentais e estresse pós-traumático. São os impactos (diretos ou indiretos) dessa violência imensa”.
“Minha sugestão para as pessoas que estão mais emocionalmente abaladas é que procurem estreitar seus laços de conexão social, como a família e amigos, que busquem experiências emocionais que os amparem e possam dar alívio à sua dor emocional. Não se isolar ou paralisar é fundamental”.