Eu trocaria, de bom grado, todos os confortos do mundo moderno por uma ilha deserta.
Ou semideserta. Porque é impossível estar numa ilha deserta. Basta você estar lá para ela não estar mais deserta.
Uma ilha semideserta com um coqueiro.
Na verdade, dois – ou não daria para pendurar a rede.
Talvez se pudesse trocar os coqueiros por um ombrelone e um bom suprimento de água de coco.
Em garrafinha, porque manusear facão pode ser complicado.
Uma ilha deserta com um ombrelone, água de coco, meus discos, meus livros e nada mais.
Para ouvir os discos, precisaria de energia elétrica. E, para os livros, uma poltrona reclinável. Já tentou ler na rede? É que nem pilates ou filme francês: bom mesmo só nos primeiros quinze minutos, depois cansa.
Uma ilha (semi)deserta com piscina.
E, claro, alguém que limpe a piscina uma vez por semana.
E apare a grama.
Nem precisa faxineira todo dia – dia sim, dia não, basta.
E uma máquina de café espresso.
E cardápio com opção de comida japonesa.
E sorbet de manga (ou tangerina com coco) de sobremesa.
E massagem nos pés.
Na verdade, massagem no corpo todo, com ênfase e especialização nos pés.
O silêncio só quebrado pelo vento soprando no ombrelone e pela sineta avisando que o jantar está servido.
Pensando bem, uma ilha deserta (ou semideserta, que seja) sem coqueiro não é a mesma coisa. Voltem os coqueiros — e a rede.
De preferência rede com banda larga, 1,5 terabit por segundo.