A psicanálise aposta em mudanças! O tema do final de análise sempre esteve presente em Freud, Lacan e em outros autores psicanalistas. Considero que há diferentes finais de análise: para cada sujeito, haverá um modo singular de verificar a experiência que o levou a não mais ser o mesmo do início do tratamento no seu modo de amar e desejar. Para pensar como terminam as análises das mulheres, me servi da palavra “Arremates” para localizar o feminino entre cortes e suturas, entre centro e ausência, em uma oscilação permanente dos modos de expressão.
O tema do Feminino, além do gênero, é um modo de experiência que pode advir em cada singularidade de mulheres e de homens. Entretanto, o final de análise das mulheres tem algo de incurável, de algo que pulsa e que aposta em um “saber-fazer’ com o enigma definido por Freud como um continente negro da feminilidade, tributário de um modo ilimitado de ser. A clínica do feminino indica que as mulheres evidenciam um acontecimento de um gozo no corpo, que é excessivo e perturbado – irrupções sempre presentes, que demandam arranjos sintomáticos, que chamei de Arremates.
O tema do Feminino traz um real que insiste e que sobre o qual a mulheres pouco sabem falar, como na devastação, que é resultante de uma decepção da relação mãe/filha, como expressão de um intenso amor/ódio, que é comum nas análises das mulheres, que parece não cessar e que insiste.
Desde o enigma do feminino e de seus efeitos, verificamos um furo no universo dos homens e das mulheres. Como as mulheres lidam com isso? O livro “Como terminam as análises das mulheres? Arremates clínicos do feminino” ressalta que, com Freud e com Lacan, a sexualidade feminina torna-se para todos uma questão crucial.
Outro tema do livro que desenvolvo é sobre o amor e as parcerias. Não foi, por acaso, Lacan dizer que uma mulher é para o homem, sua hora da verdade. Indago sobre o amor, seus mistérios na experiência da análise, e assim aposto que uma análise pode mudar a maneira de amar – plagiando Gonzaguinha, amar de novo, ser, ser novamente! Para ilustrar tais questões, exemplifico, através da literatura e do cinema, algumas passagens que podem sustentar o conceito de ”devastação” da mulher no amor.
Exemplifico, através de diferentes semblantes de mulheres, tais como Medeia, Antígona, NagiKo, no livro de cabeceira de Peter Greenaway, e Clarice Lispector em seu livro “Água Viva”. Uma análise não é sem fim, mas um caminho que deve ser conduzido ao final, um ponto onde o feminino se articula ao infamiliar, em que cada um, de maneira singular, inventa, a partir de seus Arremates, uma ferramenta, sua “caixa de costuras” para abrigar o feminino sempre Outro.
Foto: Camila Maia/Divulgação
Angela Batista é psicanalista praticante da EBP /AMP (coordena o seminário sobre “As parcerias contemporâneas”, na EBP Rio), tem mestrado e doutorado pela UERJ. Autora de inúmeros artigos, lança seu primeiro livro “Como terminam as análises das mulheres? Arremates clínicos do feminino”, na Travessa, de Ipanema, dia 27/09 às 19:30.