Na colagem Ruy Castro, Fernando Gabeira, Rosiska Darcy, Joaquim Falcão e Cristina Aragão; Fernanda Montenegro e Fernando Gabeira
Teve muito debate, com conclusões, no lançamento da nova edição da Revista Brasileira, da ABL, com o tema “A Força da Palavra” — não há lugar melhor para a frase! —, nessa segunda (05/08), na Travessa do Shopping Leblon. Com tantos especialistas no assunto (Joaquim Falcão, Ruy Castro, Rosiska Darcy, Fernando Gabeira e a jornalista Cristina Aragão como mediadora), um fio foi puxando o outro e a conversa se estendeu. A escritora Rosiska Darcy, editora da revista, se disse pessimista com o futuro das novas gerações. “Hamlet foi cancelado porque ‘ser ou não ser’ não é mais a questão, quando a gente sabe que com um clique se mata a dialética, se anula toda a complexidade de Edgar Morin, onde muitos de nós fomos formados. Será que estamos vivendo visando uma terra plana?”
Joaquim Falcão avisou que terminou o livro sobre Fernanda Montenegro, sobre as “pausas” da atriz e disse estar otimista em não ser derrotado pela Inteligência Artificial. “Existem muitas inteligências artificiais. Haverá competição entre elas; já está acontecendo, você escolhe a sua. O meio que pretende ser certo num sistema competitivo basta ser incerto, por isso sou otimista. A Inteligência Artificial vai ser outra incerteza e vamos superá-la”.
Fernando Gabeira falou da sua luta diária com a palavra, citando as falas de Lula sobre a Venezuela, em que o presidente brasileiro pede diálogo num país onde o presidente prende seus opositores e constrói mais penitenciárias para caber todos eles. “É a luta da palavra contra a tirania política, religiosa. Acredito que não foi tanto a Internet que desvalorizou a palavra e a imagem, foi também a filosofia, o Pós-Modernismo, que nos trouxe ideias segundo as quais não havia uma realidade, mas sim versões da realidade. Isso trouxe para a política um efeito devastador, acabou se conectando à política no sentido de que não importa mais a verdade. Importam as versões. Hoje assistimos a uma luta de versões. É preciso ter noção do que ouvimos e interpretamos bem. O meu trabalho tem sido este. Precisamos ter muito cuidado com as palavras porque somos enganados por elas. Antigamente diziam que ‘as palavras enganam’ e a fotografia, não. Hoje, infelizmente, somos enganados pelas duas e até pelo áudio”.
E encerrou assim: “Ouvindo um debate de dois amigos, um falava que a posição dele não devia ser contestada porque ele era um cara maduro. O outro disse: esquece esta palavra; vamos usar uma outra. A palavra maduro já tem outro sentido neste momento” (hahahahhahaha).
Ruy Castro lembrou do “assassinato do jornal Correio da manhã pela ditadura de 64. A palavra teve que ser combatida e silenciada; hoje, não existe mais isso. A luta é silenciosa e mais perigosa. Agora minha preocupação é que os garotos estão perdendo a paciência para fazer qualquer coisa que dure mais de 15 segundos, mas me resta uma esperança: o robô capaz de fazer uma cirurgia a 5 mil quilômetros ainda não consegue descer escada. Talvez não consiga descer nunca. E então podemos ficar num andar diferente, a salvo dele”.
O presidente da ABL, Merval Pereira, preocupado com o tom pessimista dos debatedores, pediu a palavra para protestar. “A revista é a favor da palavra, não é contra. A palavra é a reafirmação da força da palavra. Pegaram um aspecto muito negativo. É ao contrário, a revista mostra que a palavra tem força, que a palavra tem que ser combatida brutalmente, porque ela mobiliza as pessoas. É o que pensa quem vive da palavra. Ou não estaria mais escrevendo, não estaria fazendo livros. Não é o robô que faz cirurgia. É um homem que comanda o robô. Quem inventou o robô foi o homem. Temos que ficar um pouquinho mesmo pessimistas porque tem coisas muito ruins, mas o nosso mundo não acabou, ou não estaríamos aqui fazendo esse debate”.
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