Na imagem, a Lagoa Rodrigo de Freitas, há mais de 30 anos, sem mangue algum, e hoje, repleta de vegetação /Fotos: Mario Moscatelli
Meu nome, por acaso, é a junção de dois elementos, nos quais os manguezais melhor se desenvolvem, no encontro das águas do mar com o rio, isto é, mario.
Como canceriano, dizem que a Lua é meu “astro” regente, o mesmo que é fundamental para as marés bem como para a existência dos manguezais.
O símbolo zodiacal do canceriano é o caranguejo, animal típico dos manguezais, portanto minha relação com o ecossistema já estava predestinada nas estrelas.
Como os manguezais, sou extremamente insistente e resiliente, parecendo nunca desistir, principalmente quando ponho na cabeça que estou certo.
Numa conversa informal em Niterói, na UFF, há 20 anos, segundo a pesquisadora Marta Vanucci, a primeira vez que havia sido utilizada a palavra “mangui”, de origem africana, numa carta náutica, foi pelos portugueses na baía de Ilha Grande, litoral sul do Rio de Janeiro.
Nos manguezais da baía de Ilha Grande, foi que iniciei minha intrínseca relação com o ecossistema: primeiro, pescando tainhas na adolescência e, em seguida, defendendo-o a todo o custo.
Não posso negar que sinto algo de “muito estranho” nessa história, principalmente quando lembro que, durante minha infância, assistindo ao programa “Amaral Neto – o repórter”, lá no início dos anos 70 do século passado, apareceram as maravilhas da Rodovia Rio-Santos, recém-inaugurada e meu desejo de conhecer Angra dos Reis.
Pois foi por conta dos mergulhos na baía de Ilha Grande, na adolescência, que me tornei biólogo e, por conta dos manguezais, sou o que sou hoje.
Nos manguezais de Angra dos Reis, reconheci o microcosmo do que há de maravilhoso na Natureza, bem como o que há de pior no ser humano.
Em defesa dos ecossistemas locais, principalmente no que diz respeito aos manguezais, sofri todo tipo de pressões e ameaças contra a minha existência terrena. Simplesmente, para a maioria, era inexplicável o motivo de proteger aquele tipo de floresta que serviria muito melhor como uma marina e ou um loteamento! Foram anos românticos, mas extremamente duros, quando o apoio mental vinha das leituras zen budistas, livros de Fritjof Capra e a confiança que eu tinha (tenho) no conceito da Força.
Passados 37 anos desde minha interação mais intensa com os manguezais, hoje, sinto-me fazendo parte daquela família e vice-versa. Não apenas a admiração que tenho pelas proezas de sua flora e fauna em sobreviver num espaço dinâmico onde tudo muda a todo o momento, bem como suas múltiplas funções ambientais, econômicas e sociais me tornam como que mais um componente daquele ecossistema. No entanto, vai muito além, algo que não sei definir, pois existem coisas que não são definíveis, apenas sentidas, pois não são descritíveis por meio de palavras.
Hoje, em seu dia, 26 de julho, o mesmo mês em que nasci, minha resolução de defendê-lo, recuperá-lo e até criá-lo, continua sendo muito mais do que por um desejo pessoal.
Vivemos climaticamente, no Planeta, as consequências de nossas inconsequências, de nossas decisões equivocadas, em nossas zonas de conforto, arrogantes, fruto da adolescência da espécie animal dominante em que tudo parece que não terá fim. Algumas civilizações do passado seguiram por essa linha e, em várias, o clima, a escassez de recursos naturais, as conduziu às ruínas que hoje visitamos extasiadas e como um alerta que costumamos descartar.
Os manguezais são os protetores das costas abrigadas (baías, lagoas e rios que sofrem a influência das marés), são os mantenedores da biodiversidade costeira, são os mais eficientes sequestradores e acumuladores de carbono e consequentemente são uma das importantes ferramentas tanto em relação ao combate da causa do aquecimento global como de suas consequências que dizem respeito à elevação do nível dos oceanos.
Fato é que os manguezais no Brasil são protegidos integralmente por lei desde 1965, mas isso não os impediu de serem suprimidos e degradados das mais diversas formas por delinquentes ambientais de todos os tipos e, muitas vezes, com o apoio de quem deveria protegê-los. Vi muito disso!
No entanto, não há mal que dure para sempre, e no momento temos tido, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, um grande esforço visando à proteção e ampliação de suas áreas.
Nos próximos 30 anos, pretendendo ter meu “sprint” final ambiental, espero poder entregar uma área de manguezais muito maior recuperada daquela que encontrei nessa minha passagem por este planeta.
Sem dúvida, os habitantes de “Dagobah” me aguardam, satisfeitos com os avanços que pude colaborar em fazer até o momento, mas ansiosos por ver o que ainda será incrementado nas próximas três décadas.
Em especial nos manguezais da lagoa Rodrigo de Freitas, chorei a passagem de meus pais, reencontrei Maria Lúcia e a felicidade, busquei forças no meu tratamento, soltei caranguejos com minhas filhas. A cada espécie que encontro chegando àqueles manguezais cujo plantio iniciei, em outubro de 1989, continuo ouvindo o mesmo chamado — o chamado da vida, o chamado da Força.