Depois de muito zapear pela Netflix, Amazon e HBO (agora Max), descobri que posso, sem muito esforço, me dedicar a escrever roteiros de filmes para a streaming.
Na área de ficção científica, tenho alguns prontos (e posso fazer outros 20 nos próximos 15 minutos, se houver demanda):
O primeiro é “Ameaça fatal”: asteroide malicioso é lançado por alienígenas perversos em direção à Terra. Agências espaciais dos países do G7 se unem e enviam ao espaço uma nave com a missão de interceptar o bólido, descobrir como ele é controlado, alterar seu algoritmo e mandá-lo de volta ao remetente – infectado com ebola, Covid, anthrax e reggaeton.
Da Alemanha, vai Hans Furchtloserentschlossener, um destemido e determinado piloto, cujo avô guarda um terrível segredo dos seus tempos de Luftwaffe. Do Reino Unido, a médica Shivanshika Kaur, especialista em doenças tropicais e portadora de uma síndrome rara, que a faz ter alucinações gustativas quando em gravidade zero. A França envia o engenheiro de voo Mohammed Saidi, que desde criança tenta disfarçar um problema de lateralidade e tem pavor de altura. Da Itália, o renomado linguista Giuseppe K., com a missão de interagir com eventuais alienígenas, mas só se eles também conseguirem falar com as mãos. Completam a tripulação o físico japonês Katzuo San, que sofre de claustrofobia, a canadense Juanita López, produtora musical (embarcada para atender ao sistema de cotas na agência espacial do Canadá), e o programador de T.I. Joe Smith, do Kentucky, que acaba de se separar da mulher e vive o dilema de prosseguir na missão e destruir o asteroide antes que ele aniquile a vida na Terra, ou sabotar o projeto (e permitir que a Terra seja destruída dois dias depois), mas voltar para casa a tempo de ver a apresentação de balé da filha na escola.
O segundo é “Colisão mortal”: objeto não identificado é detectado pelo telescópio Hubble, e está em rota de colisão com a Terra, carregando uma arma de destruição em massa (coisa de aliens malvados, claro). Agências espaciais dos países do Brics se unem e enviam ao espaço uma nave com a missão de interceptar o dito cujo, desativar a arma e salvar o planeta. Bóris, o piloto russo, desconfia de Xian, o copiloto chinês, que, por sua vez, tem sérias suspeitas das reais intenções de Singh, o engenheiro indiano, cujo santo não cruza com o do astrofísico iraniano Asdrúbal (sim, Asdrúbal é nome persa), que tem como missão monitorar o químico egípcio Ahmed, que guarda uma mágoa antiga de Youssef, o médico saudita, que desconfia que sua mulher o trai com Melokuhle, o comissário de bordo sul-africano, que… bem, vocês já pegaram a ideia mesmo antes de eu falar do ascensorista brasileiro e seu colega norte-coreano (como o filme se passa num futuro próximo, a Coreia do Norte já estará nos Brics).
Não há um filme — um sequer! — de ficção científica em que a tripulação seja composta de gente equilibrada, sem traumas de infância, que respeite a hierarquia e seja capaz de, sob pressão, tomar decisões acertadas. Parece reunião de condomínio ou de CPI no Senado, só que ambientada numa espaçonave.
Outro filão é o de filmes de terror.
Casal em crise resolve trocar a cidade grande pela vida de uma pacata cidadezinha do interior, sem saber que a casa que onde vão morar oculta um terrível mistério. Casal gay, com dois cachorros e um gato, muda-se para pacata cidadezinha do interior, sem saber que a casa que compraram por ótimo preço esconde um aterrorizante segredo. Jovens universitários alugam casa para passar o fim de semana numa pacata cidadezinha do interior, sem saber do seu apavorante passado. É só trocar os personagens por “quatro freiras”, “três amigos de infância”, “grupo terrorista” ou “sete anões” e você terá um roteiro novinho em folha – com o personagem principal vendo coisas nas quais o personagem secundário não acredita, barulhos suspeitos à noite, uma escada que leva ao porão (ou ao sótão), uma tempestade com raios, uma lâmpada piscando e uma pessoa mentalmente incapaz, que vai ao sótão (ou ao porão) numa noite de tempestade com raios para ver que barulho é aquele enquanto uma lâmpada pisca.
(Enquanto escrevia o parágrafo anterior, fiz mentalmente o roteiro de “Ameaça fatal 2”. É tudo igual – elenco multiétnico, inclusivo e barraqueiro –, só que o herói (um americano de New Jersey), precisa escolher entre salvar a galáxia ou voltar a tempo de ver o jogo de baseball do filho mais velho – e evitar que o atual marido de sua ex-mulher lhe roube esse lugar.)
Aceito também encomendas de doramas e dramas indianos.