Nessa terça (14/05), foi o dia da 4ª edição do “Conversas para Iluminar o Mundo”, parceria da jornalista Maria Fortuna, com a diretora artística do Manouche, Alessandra Debs, que recebeu o ator Marcos Palmeira para um papo além das novelas.
A conversa passou por assuntos, por exemplo, terapia, “Renascer” (novela atual das nove na TV Globo), a identificação do ator com personagens “capiaus” do Brasil profundo, a chegada aos 60 anos, a neura dele por nunca ter sido estudioso no meio de uma família de intelectuais. Contudo, a questão ambiental foi o maior, digamos assim, tema da noite.
Há mais de 20 anos, Marcos iniciou o trabalho de cultivo de alimentos orgânicos em sua fazenda, a Vale das Palmeiras, em Teresópolis. Recuperou a propriedade de 200 hectares, e a fazenda passou a ser uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), o que a transforma em unidade de preservação sob controle privado. Lá, ele produz leite orgânico (transformado em queijos e iogurtes) e comercializa mel e cacau, em parceria com outros produtores.
Palmeira falou sobre o alimento como atitude política, a boiada passando e, principalmente, a crise climática e a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul: “O recado é que a gente segue perdendo tempo. Passamos por uma pandemia muito dura, que nos mostrou como a natureza tem capacidade de se recuperar rapidamente, caso a gente não interfira no processo. Em pouquíssimos meses, o buraco da camada de ozônio diminuiu, e a limpeza dos rios aconteceu. Ali, eu tive esperança de que a gente ia mudar, mas, não, seguimos na mesma toada. Essa tragédia no Rio Grande do Sul era muito esperada. Estamos em ano de eleição: é votar direito. É preciso saber quem flexibilizou leis, dar nome aos bois, e entender quem está propondo projetos que freiam a degradação. A gente já está no ponto de não retorno, anunciado há tanto tempo. O que estamos vivendo hoje é o que a gente vem fazendo no nosso dia a dia. Não temos preocupação com mata ciliar. Há toda uma indústria por trás de tudo isso, quando a gente percebe que a indústria do alimento e a do veneno são a mesma do remédio… A quantidade de farmácia mostra que somos uma população doente”.
E completa: “Na minha cabeça, o mais importante ministério do Brasil teria que ser o do Meio Ambiente; tudo teria que passar por ele. Não se constrói um hospital ou uma ponte sem passar pelo ambiente, no entanto, ele é o último da fila. Para mim, Marina Silva tinha que ser ministra de Economia”.
Batizado pelos Xavante como “Tsiwari”, que quer dizer “sem medo”, Palmeira encerrou a noite com um canto indígena, para saudar a Terra.