Na foto, o parque Sanya Mangrove, na cidade chinesa de Sanya (com população de 530 mil pessoas), um dos projetos do arquiteto Kongjian Yu /Foto: Divulgação
É só assistir a algum vídeo sobre ecossistema e o seu algoritmo nas redes para entender que você quer saber sobre o assunto, e envia vários temas com a expressão em alta: “cidade-esponja”. Na última semana, a Câmara do Rio aprovou, em primeira discussão, um projeto de lei que estabelece um modelo para gestão de inundações e fortalecimento dos sistemas de drenagem, a chamada “cidade-esponja”, depois de vários eventos climáticos extremos, como calor excessivo fora de época e a tragédia no Rio Grande do Sul. A prática vem sendo adotada em diversas partes do mundo, como Nova York, Berlim e cidades chinesas. A coluna conversou com o biólogo Mario Moscatelli sobre a “milagrosa” solução. “De tempos em tempos, por conta de alguma demanda, aparecem palavras ditas como solução para tudo, de dor de dente a unha encravada! Inicialmente, do que precisamos é cumprir o que existe na legislação ambiental e urbana, como respeitar a faixa marginal de proteção de rios e lagoas, não permitir desmatamentos, ordenar o uso do solo, manter limpos rios e canais que vivem todos entupidos de sedimentos e lixo etc.”, diz ele.
O modelo “esponja” é baseado na busca pela absorção, captura, armazenamento, limpeza e reutilização da água da chuva como mecanismo sustentável de redução de enchentes e alagamentos, com criação de jardins de chuvas, tetos verdes, pavimentação drenante, reflorestamento (porque as árvores e plantas sequestram o gás carbônico responsável pela camada de ozônio), bueiros ecológicos e valas de infiltração.
“Paralelamente às práticas que já conhecemos e não fazemos, podemos criar mecanismos naturais que funcionem como áreas permeáveis para o excesso de água. Para isso, porém, é fundamental uma coisa: pôr pra funcionar o que já existe”, finaliza Mario.
O arquiteto chinês Kongjian Yu, decano da faculdade de Arquitetura e Paisagismo da Universidade de Pequim, é o criador do conceito de cidades-esponja, para evitar ou mitigar tragédias como a do RS, por exemplo. Segundo ele, é necessário parar de “lutar contra a água” e investir em soluções sustentáveis baseadas na natureza. “É preciso criar espaços e infraestruturas capazes de absorver, reter e liberar a chuva de forma que ela retorne ao ciclo natural da água sem causar danos. Funciona em qualquer lugar. As cidades-esponja são uma solução para climas extremos, onde quer que eles estejam. O Brasil pode se dar muito bem com elas, porque tem muitas áreas naturais, o que dá mais espaço para a água escoar”, afirmou ele à BBC Brasil.